
Ninguém tenha dúvidas de que, quanto mais crescem as duas grandes metrópoles – Lisboa e Porto –, a multiplicação dos gangues vai alastrar. Por eles passa muito do consumo e pequeno tráfico de droga, assaltos a estabelecimentos e residências, furto de esticão, crimes de danos e, não raras vezes, conflitos que dão origem a ofensas corporais. Até a homicídios, como aconteceu recentemente no Bairro Alto.
São, na sua maioria, jovens desenraizados que se afastaram da ordem social estabelecida pelas leis da República, com escolaridade reduzida, alimentados pelo consumo de jogos e filmes violentos, com imenso tempo de ócio que dedicam às mais diferentes atividades onde o crime está sempre presente ou as condições para o praticar existem em potência.
É um fenómeno típico das grandes metrópoles onde os laços de solidariedade horizontal são mais ténues, o controlo social reduzido e a oferta de lazer é tão variada que estes grupos de rapazes (que foram excluídos ou se auto excluíram) sentem que vivem uma liberdade muito específica da qual a responsabilidade não existe.
Quando aqui se chega, é o momento em que deixam de ser um problema político e passam para os radares da Polícia.
Porém, há que dizer que toda esta explosão de violência e crime é indissociável da falência da política. A construção da metrópole é heterogénea. A criação de bairros sociais, que acolhem os mais debilitados socialmente, não possuem condições mínimas de vida comunitária, transformando-se em verdadeiros guetos. O estímulo ao trabalho, com mais emprego, é uma miragem. Planos para a convivência social não existem, o encontro cívico, religioso, cultural não passam de foguetes de lágrimas. Aprofunda-se a desagregação social onde os mais fracos aceitam essa desagregação como mecanismo de defesa e daí irrompe a revolta, não como uma ação de massas mas com o surgimento de grupos com organização mais ou menos formal que traduzem os protestos em práticas antissistema. É um drama que ganha dimensão policial porque a política falhou.