Chega aos cinemas o filme premiado 'O Pai' sobre a solidão de Anthony, por Hopkins
‘O Pai’ foi uma das surpresas do ano e trouxe consigo uma interpretação inesquecível do icónico ator britânico, valendo-lhe o Óscar de melhor ator principal.
Quando na última cerimónia dos Óscares a ordem da apresentação dos prémios foi alterada, muitos esperavam ver a estatueta de melhor ator, cuja entrega foi deixada para o final do evento, a ser endereçada ao falecido Chadwick Boseman, e foi também por isso que a surpresa se tornou generalizada quando saiu do envelope o nome de Sir Anthony Hopkins, pelo filme ‘O Pai.’
Não tendo marcado presença no Dolby Theatre (ou nos vários núcleos oficiais do evento à volta do mundo), por estar no País de Gales, o seu país-natal, foi apenas no dia seguinte que se pôde conhecer a reação de Hopkins à conquista, deixando uma homenagem ao ator de ‘Black Panther’, assinalando que foi alguém que "perdemos demasiado cedo" e agradecendo também à Academia por esta conquista, tendo, posteriormente, sido filmado a fazer uma dança celebratória ao som de Leonard Cohen, junto a Salma Hayek.
A vitória do veterano ator galês pode ter torcido alguns narizes, mas quem assistiu a ‘O Pai’ percebeu que ali estava algo de especial, e que o desempenho de Hopkins não estava ao alcance de qualquer um. Voltemos ao início: no filme de Florian Zeller, Hopkins encarna o seu homónimo, Anthony, um homem de idade avançada, que luta contra o avanço da demência e da perda de memória, sem perder o orgulho próprio, algo que demonstra nas várias interações que tem com as personagens secundárias, entre as quais Anne, a sua filha, interpretada por Olivia Colman, muito elogiada pela crítica pela sua participação no filme.
Este é um papel completamente distinto daqueles a que estamos habituados a assistir de Hopkins, personagens implacáveis e poderosas, como Hannibal de ‘O Silêncio dos Inocentes’ ou Dr. Ford de ‘Westworld’, é um papel que causa empatia no público, que possivelmente já viu situações semelhantes em pessoas que lhes eram queridas e se emociona com o que vê no ecrã, é um papel baseado na fragilidade e na humildade de compreender que mais cedo ou mais tarde todos se tornam vulneráveis, independentemente daquilo que os caracterizava, e, foi também isso que atraiu Hopkins a este filme.
De facto, em entrevista à NPR, Hopkins admitiu que aceitou o convite mal leu o guião: "Foi a mesma reação que tive com ‘O Silêncio dos Inocentes’, era um daqueles guiões que eu pensei que era um sortudo por me estarem a oferecer isto. A minha sensação foi de que eu sabia como fazê-lo porque já estou assim tão velho", explicou o ator de 83 anos, antes de acrescentar uma perspetiva mais pessoal, "eu lembro-me de estar ao lado no meu pai quando ele morreu, lembro-me de pensar que um dia me podia acontecer, isto é a vida, e quando a morte se apresenta, não temos controlo e não sabemos o que pode acontecer, há uma liberdade em perceber que já somos desadequados."
‘O Pai’ é, por todos estes motivos, um dos filmes do ano e poderá vê-lo a partir de dia 6 de maio nas salas de cinema portuguesas. A ante-estreia decorreu na passada terça-feira, no cinema NOS Amoreiras, e contou com a presença de várias personalidades da nossa praça, como é o caso de Rita Ferro Rodrigues, Rui Porto Nunes ou Joana Amaral Dias.