Simone Biles não se cala e culpa tudo e todos pelos abusos sexuais sofridos na equipa de ginástica norte-americana
A vencedora de 7 medalhas olímpicas testemunhou no Senado no âmbito dos crimes sexuais perpetuados pelo médico Larry Nassar, atualmente a cumprir pena de prisão perpétua. Também ouvida, a antiga ginasta McKayla Maroney acusou o FBI de "engavetar" denúncias.
Simone Biles foi chamada a testemunhar perante o Senado norte-americano esta quarta-feira, sobre o escândalo de abusos sexuais na equipa de ginástica dos Estados Unidos da América, que já valeu ao antigo médico da equipa, Larry Nassar, uma pena perpétua na prisão, neste caso, relativamente ao falhanço do FBI de investigar as alegações que datam de 2015.
A ginasta, que já arrecadou sete medalhas olímpicas, não se cingiu a Nassar na altura de apontar o dedo: "Eu culpo o Larry Nassar e também culpo um sistema inteiro que permitiu e perpetrou esses abusos. Se deixam um predador magoar crianças, as consequências vão ser severas", indicou. "A Federação de Ginástica e o Comité Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos sabiam que eu estava a ser abusada pelo médico da equipa muito antes de eu saber que eles tinham conhecimento. Nós sofremos e continuámos a sofrer, porque ninguém no FBI, na federação ou no comité fizeram o necessário para nos proteger", atacou a natural do estado de Ohio, de 24 anos.
A ginasta - que levantou ondas quando abandonou a competição por equipas de ginástica nos Jogos Olímpicos de Tóquio, justificando a desistência com a sua saúde mental - não foi a única a ser ouvida. Também três outras ginastas de elite – Aly Raisman, McKayla Maroney e Maggie Nichols – sentiram que a inação das autoridades competentes levou a que este comportamento se prolongasse pelo tempo.
Vítima de abusos sexuais desde os 13 anos de idade, Maroney, medalhada olímpica em Londres e hoje uma personalidade influente nas redes sociais, foi incisiva nas suas declarações, de acordo com o ‘USA Today’: "Depois de ter contado a minha história ao FBI no verão de 2015, não só o FBI não relatou o abuso que sofri, como, quando documentaram aquilo que referi, dezassete meses depois, criaram falsas alegações sobre o que eu disse. Qual é o objetivo de denunciar os abusos sexuais que acontecem se os nossos próprios agentes do FBI engavetam os nossos relatos?" As afirmações de Raisman, que venceu seis medalhas nos Jogos de Londres e do Rio, não diferiram substancialmente em natureza das de Maroney: "Foi como entregar crianças inocentes a um pedófilo em bandeja de prata", acusou, assinalando que esta quarta-feira foi "uma das últimas oportunidades de se fazer justiça."
O escândalo sexual na ginástica norte-americana, começado a ser desvendado através de uma investigação do ‘Indianapolis Star’ em 2016, envolveu um total de mais de 360 mulheres, muitas menores de idade, aproximadamente 260 das quais acusaram Larry Nassar de agressões de índole sexual, ao longo de duas décadas.