
Robert Prevost é o novo papa e será conhecido como Leão XIV. Sobre o norte-americano, já se sabe que dificilmente seguirá a linha mais inclusiva do Papa Francisco, que abriu a porta da Igreja Católica a "todos, todos, todos" e que as suas convicções sobre ideologias de género são tendencialmente mais conservadores. Pouco tempo depois da sua eleição, a curiosidade em torno do percurso de Prevost até aqui aumenta e de entre o seu vasto currículo, há alguns episódios mais polémicos que começam a vir à tona, naquilo que é chamado de "passado incómodo" do novo sumo pontífice, durante os mais de 20 anos que passou no Peru.
Enquanto Francisco sempre demonstrou ter tolerância zero em relação a abusos sexuais dentro do Vaticano e da igreja no geral, há um caso em torno de Robert Prevost que se prende com o relato avassalador de três mulheres vítimas de abuso, que o novo Papa é acusado de ter desvalorizado. Na altura, o norte-americano era bispo em Chiclayo e, apesar de ter validado a denúncia, confirmando ser verdadeira, não afastou o visado da sua igreja. O caso foi bastante polémico no Peru, pois além de não ter tido mão pesada perante o abusador, ainda o acolheu num dos seus mosteiros, permitindo que continuasse a fazer parte da comunidade católica, sendo que o seu castigo for apenas ter de mudar de sede.
Na altura, duas mulheres apontaram o dedo ao padre sob anonimato, mas uma das vítimas aceitou dar a cara, partilhando, absolutamente devastada, os abusos do homem, numa altura em que tinha apenas nove anos, sendo que tudo aconteceu numa casa paroquial. "Era o aniversário do Padre Eleuterio. A minha mãe fez um bolo para ele e disse para eu o levar. O padre não estava, então Ricardo Yesquen (outro padre) abriu a porta. Sentou-me no colo dele e começou a beijar-me", afirmou Ana María Quispe, a mulher que recordou o caso que toldaria a sua infância.
"Depois, ele deitou-se e abraçou-me, segurando-me com os braços e as pernas. Congelei, não dormi nada. Depois de algumas horas, acordei e vomitei", acrescentou. Os abusos foram denunciados a Robert Prevost, que era então bispo de Chiclayo, no entanto as vítimas sentiram-se magoadas, desprotegidas e entregues à sua sorte, sendo que que este é apenas um do episódio do passado que persegue Leão XIX.
QUEM É, AFINAL, ROBERT FRANCIS PREVOST
Robert Francis Prevost tem 69 anos de idade e é o novo líder da Igreja Católica. O cardeal foi eleito nesta quinta-feira, 8 de maio, no segundo dia do Conclave, depois de quatro votações.
Prevost nasceu a 14 de setembro de 1955, em Chicago, no estado norte-americano do Illinois, e entrou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho em 1977. Prevost licenciou-se em Matemática e é mestre em Divindade, mas a sua formação académica inclui uma licenciatura e doutoramento em Direito Canónico.
No entanto, passou a maior parte da sua vida no Peru, esteve durante 20 anos, até se ter juntado ao grupo de Cardeais no Vaticano, tendo assumido um cargo importante na Santa Sé, tendo sido nomeado pelo Papa Francisco como prefeito do Dicastério.
Mais discreto e visto como menos caloroso do que Francisco, é também de uma linha naturalmente mais conservadora. Em 2012, num discurso para bispos, lamentou que os meios de comunicação fomentassem "simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o evangelho", falando num "estilo de vida homossexual" e "famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos". E enquanto bispo de Chiclayo opôs-se a uma disciplina que abordasse questões de ideologias de género nas escolas.
Logo após a sua eleição, foi felicitado um pouco de todo o mundo, sendo que uma das mensagens que chegaram mais rápido foi a de Donald Trump, que não escondeu o orgulho por ter o privilégio de ver o primeiro Papa norte-americano.