O que é que Marlene tem? O triunfo da chef que 'rouba' todos os prémios "sem berros na cozinha"
2025 foi o ano em que Marlene Vieira viu o seu talento consagrado a nível inrternacional: começou com uma Estrela Michelin e termina com a distinção de melhor chef da Europa, num percurso que tem trilhado com consistência e sucesso, lembrando à jovem Marlene que aos 12 anos já trabalhava em restaurantes nas férias e acabaria irremediavelmente apaixonada pela cozinha.Numa altura em que caminhamos a passos largos para o final de 2025, Marlene Vieira bem que pode dizer que este foi o seu ano. Começou com a alegria de receber a sua primeira Estrela Michelin para o seu restaurante de cozinha de autor - Marlene - e termina de forma idêntica ao receber o prémio de European Chef 2025 pelo Conselho Europeu de Confrarias Enogastronómicas.
É o triunfo de uma chef que tem trilhado o seu caminho com discrição e, como a própria gosta de dizer, de forma tranquila. "Atingi os meus objetivos de forma leve, sem berros na cozinha e sem castigos”, disse em conversa com Francisco Pedro Balsemão no podcast 'Geração 80' aquela que, nascida na Maia, há 45 anos, começou a trabalhar em restaurantes nas férias, quando tinha apenas 12 anos e aos 16 iniciou os seus estudos na área na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Durante o seu percurso, pôs literalmente as mãos na massa, não havendo nada que não tivesse experimentado.
"Fiz de tudo o que se faz num restaurante. Comecei pela cozinha, mas também limpei casas de banho. E aos poucos, o mundo da cozinha invadiu-me. Não me apaixonei pela cozinha da avó ou da mãe. Apaixonei-me pela vida de um restaurante especial", recorda a chef que, cinco dias depois da queda das Torres Gémeas, estava de malas feitas para os Estados Unidos, onde trabalhou num restaurante português e acabaria a servir sardinhas assadas à cantora Norah Jones. "Era uma cozinha portuguesa tradicional num ambiente de luxo... Era contraditório. Cozinha portuguesa era servida nas tascas. E eu estava, de repente, em Manhattan a servir umas sardinhas assadas à Norah Jones", explicou.
Ao longo do seu percurso, nunca teve medo de arriscar e o restaurante que abriu em 2022 em nome próprio, Marlene, confirmou a sua excelência, que agora é distinguida a nível internacional. A meio deste percurso de sucesso, acabaria por unir energias àquele que se tornaria num parceiro de excelência no trabalho e no amor: o também chef João Sá.
"Eu sou do Porto e o João é de Sintra. Conhecemo-nos na cozinha. Num hotel, quando trabalhávamos juntos, em 2005. Fomos crescendo juntos durante todos estes anos", já partilhou a chef, em conversa com a 'Face Food Mag'. 17 anos depois, têm uma filha, Isabel, e gerem quatro restaurantes em conjunto, o que se revela um autêntico desafio, principalmente na altura em que é suposto não levarem trabalho para casa, misturando tachos e amor. "Temos diferentes formas de trabalhar. A minha preocupação é agradar a muita gente. O João gosta mais de trabalhar para o seu próprio agrado, ele é um artista. A sua cozinha é mais pessoal. E no Marlene quero trabalhar mais a criatividade e a sensibilidade...", fez saber João Sá à mesma publicação.
Acima de tudo, aplaudem as conquistas um do outro. No ano passado, quando João Sá recebeu uma Estrela Michelin com o seu restaurante Sala, Marlene esteve na linha da frente, sem esconder o orgulho. Este ano, foi a vez de Marlene 'roubar' a Estrela ao marido, e ele mostrou-se encantado. Entre os dois não há lugar para rivalidades.
"A cozinha da Marlene é sobretudo muito rica em sabor português. Mas eu gostava de destacar a sua maneira de estar na cozinha, como se comporta com as pessoas que trabalham com ela... Ela é muito melhor ao comando do que eu", elogiou Sá, acrescentando que este percurso lado a lado na cozinha não tem sido isento de desafios. "É difícil, porque quando temos quatro restaurantes com a nossa companheira, sem sócios nem mais ninguém, o restaurante é uma parte muito importante da nossa vida... Por isso mesmo, este ano tentámos não falar de trabalho em casa. Porque, com a pandemia foi tudo muito intenso. Mas diria que a Marlene é muito mandona", revelou.
Além dos espaços de autor, o casal tem ainda o Zunzum Gastrobar e um corner no Time Out Market. Uma azáfama feliz, mas que no futuro os dois gostariam de ver, de alguma forma, abrandar. "Vemos o futuro juntos, a cozinhar numa quinta com animais. Gostávamos de ter um pequeno hotel com um restaurante. Bom vinho... Mas juntos. Nós trabalhamos com o coração", disse a chef dos afetos, que agora quer levar o nome de Portugal além-fronteiras, com o seu talento a estar de portas abertas para o mundo.
OS RECADOS A LJUBOMIR E A DERRADEIRA VITÓRIA
Marlene Vieira há muito que é um nome forte da cozinha de autor, mas tornou-se mais conhecida da globalidade dos portugueses, depois de participar como jurada no programa da RTP 'Masterchef', um programa que, de alguma forma, compete com o da SIC 'Hell's Kitchen', liderado por Ljubomir Stanisic.
Convidada, no passado, a dizer o que pensa do formato, a chef não teve problemas em dizer o que pensa, garantindo que o programa não é representativo daquilo que se passa nas cozinhas nacionais. "É um reality show, não é um programa de cozinha, os reality shows são feitos para chocar, quanto mais chocam pior. É um bocado desenquadrado do que é a atualidade do trabalho das cozinhas. No passado já foi assim, acredito que ainda haja cozinhas assim… Não naquele nível hardcore, mas também tudo é exagerado na televisão. Aquilo é um programa de entretenimento, ou se gosta, ou não…", frisou.
Sobre Ljubomir Stanisic, que este ano viu cair a Estrela Michelin do restaurante 100 Maneiras, não tendo, por isso, marcado presença na cerimónia, Marlene Vieira admitiu não ter uma opinião completamente formada. "Nunca trabalhei com o Ljubomir. Não sei se é ou não assim. O meu registo como cozinheira é diferente. Ele não é formador, pelo que sei, ou nunca foi. E por isso as pessoas que vão ter com ele é porque gostam daquele deslumbre. Há pessoas que gostam de sentir aquela pressão de bad boy. Vão para se superar, para ver onde aguentam. Aquilo é mais fogo de vista. É um boneco televisivo, muita conversa, muita parra, pouca uva."