Rei Juan Carlos quebra o silêncio sobre a morte do irmão de 14 anos quando ambos manuseavam uma pistola na casa da família no Estoril
No seu novo livro de memórias, o rei emérito de Espanha fala sobre o fatídico dia em que disparou uma arma e atingiu o seu irmão mais novo, Alfonso.Continuam a ser divulgados excertos de 'Reconciliação', o muito aguardado livro de memórias do rei emérito de Espanha, Juan Carlos, de 87 anos.
A obra, escrita em conjunto com a jornalista francesa Laurence Debray, chegou esta quinta-feira às livrarias em França e será publicada em espanhol em dezembro.
Um dos capítulos mais marcantes, intitulado 'A tragédia', aborda o acidente de 1956 em que Juan Carlos, então com 17 anos, atingiu mortalmente o irmão, Alfonso, de apenas 14 anos, quando ambos manuseavam uma pistola na casa da família no Estoril.
"Não me recuperarei desta tragédia. A sua gravidade vai acompanhar-me para sempre. Tínhamos retirado o cartucho. Não fazíamos ideia de que ainda havia uma bala na arma", recorda.
"Foi disparado um tiro para o ar, a bala fez ricochete e atingiu o meu irmão diretamente na testa. Ele morreu nos braços do nosso pai", revelou ainda Juan Carlos, afirmando pensar no episódio "todos os dias" e sentir a falta do "amigo e confidente".
Também a mãe de Juan Carlos nunca terá recuperado da perda do filho Alfonso, após o trágico acidente.
"Estou convencida de que aquele incidente destruiu a família", começou a contar a maior cronista social de Espanha, Pilar Eyre, em entrevista à 'The Mag'.
"Doña Maria, a mãe de Juan Carlos, caiu no alcoolismo e esteve internada em várias clínicas de desintoxicação, na Suíça. E também por depressão. Acho que nunca se chegou a recuperar completamente. Praticamente, houve uma separação dos pais a partir dessa altura. Dom Juan e Doña Maria deixaram de ser um casal, levavam vidas separadas", disse a cronista que sabe os maiores segredos da família real espanhola.
"Quanto às duas irmãs de Juan Carlos [Pilar e Margarida], tiveram que ir embora para estudar. Uma foi viver para Madrid e a outra para Lisboa. Depois daquele acidente, nunca mais voltaram a ser os mesmos, nem como família", continuou.
"Quanto ao pai de Juan Carlos, como conto no livro ['Eu, o rei - a escandalosa vida de Juan Carlos de Espanha'], era um homem alegre, que ria muito, era um otimista, que gostava muito de conviver. Um dia, disse-lhe um amigo: ‘Nota-se que Dom Juan é um homem feliz e que está sempre contente’. O semblante do pai de Juan Carlos mudou. Agarrou a mão do seu interlocutor, apertou-a com força e respondeu: ‘Isso nunca. Não se esqueça que está a falar com um homem que perdeu um filho’. Disse isto já muitos anos depois da morte de Alfonso. Penso que no fundo, no fundo, lhe custava muito perdoar ao filho pelo que aconteceu", relatou.
Donã Maria morreu aos 89 anos, em 2000.