Ao encomendar a morte do marido, Maria das Dores 'matou' também a relação entre os filhos. A indiferença do meio-irmão é a maior mágoa da vida de David Motta
Com a mãe entregue à Justiça, Duarte foi criado pelos avós paternos, cortando relações com Maria das Dores e com o irmão mais velho.David Motta é uma figura bem conhecida dos portugueses. Começou por ser presença assídua nas páginas das revistas cor-de-rosa, entre famosos nas muitas festas que iam acontecendo por cá no final da década de 1990 e início de 2000, amigo de socialites como José Castelo Branco, Betty Grafstein ou Pedro Caldeira Jr, até que, em 2007, o seu nome acaba associado ao crime que marcou a alta sociedade portuguesa.
A mãe, Maria das Dores, acabou acusada e condenada por ter encomendado a morte do marido, o empresário Paulo Cruz. David, filho de uma anterior relação da socialite, estava em Nova Iorque a dar os primeiros passos universitários quando o escândalo estoirou em Portugal. Regressou para apoiar a mãe, sendo das poucas visitas que esta recebeu na Prisão de Tires, onde cumpriu 23 anos de pena e de onde já saiu, em liberdade condicional.
"Perguntaram-me como é que é ser filho da minha mãe. Sei lá eu, nunca tive outra. Foi esta que me trouxe ao mundo, foi esta que me amamentou, foi esta que me acompanhou quando estive muito doente ou quando chorava porque faziam troça de mim no colégio e foi também esta que me ensinou e proporcionou um número infinito de coisas e experiências que fazem de mim a pessoa que sou hoje. Por tudo isto estou-lhe imensamente grato", disse David no lançamento do livro onde a mãe conta a sua versão da história.
Depois da condenação da mãe, David saiu do País e foi estudar Belas Artes na L'École des Métiers de la Communication, em Nova Iorque. Começou a carreira na 'Vogue' americana, em 2008, e tornou-se um bem sucedido criativo na área da moda e reconhecido stylist. Regressou a Portugal, mas os últimos anos foram de desafios e superação.
Porém, o crime encomendado por Maria das Dores não vitimou apenas Paulo Cruz. Toda esta tragédia acabou por 'matar' também a relação entre David Motta e o meio-imão mais novo, Duarte, que tinha 8 anos à data dos acontecimentos. Uma mágoa por sarar na vida do stylist.
DUARTE CORTOU QUALQUER RELAÇÃO COM A MÃE E COM O MEIO-IRMÃO
Duarte recusou-se a manter qualquer relação com a progenitora. Não quis ir ao primeiro encontro promovido pelas psicólogas e desde então ficou entregue à guarda dos avós paternos. Descrito como uma criança "superiormente inteligente", Duarte ficou em estado de choque e, apesar das várias tentativas, nunca se mostrou disposto a um reencontro com a mãe que, quando lançou o livro em que conta a história da sua vida, se mostrou devastada por não ter o filho ao lado.
Também a ligação com David ficou cortada. Duarte é hoje um homem adulto, médico e com ligações à música. Cada vez que fala do meio-irmão, David Motta não consegue disfarçar a emoção. "Entretanto é um senhor crescido, bem sucedido. Fico satisfeito que no meio de toda a desgraça [ele esteja bem]. Nunca pensei que fosse de outra maneira mas podia ter sido, as coisas podem correr mal quando temos um passado complicado ou atribulado, mas ele também foi muito bem acompanhado e, portanto, os resultados estão à vista – não à minha", lamentou David Motta a Júlia Pinheiro na tarde desta terça-feira. "Bate a saudade", confirmou.
Com a mãe entregue à Justiça, Duarte foi criado pelos avós paternos, cortando relações com Maria das Dores e com o irmão mais velho. "A minha intuição diz-me que é muito complicado ou quase impossível", tinha assumido David Motta a Manuel Luís Goucha sobre uma possível reconciliação. "Entristece-me bastante, até mais pela minha mãe. Sei que se isso acontecer, terá sempre de ser depois da morte dos avós", apontou durante a mesma conversa.
"Para além de ser médico de profissão, tem uma banda que é pública, e isso dá-me alguma satisfação, porque à distância, virtualmente, posso vê-lo. E também me alegra a direção artística da banda", contou David, que revelou ainda que Duarte teve uma educação conservadora, "em escolas da Opus Dei", e que ainda assim o vê "de maquilhagem na cara" e a "beijar rapazes" como parte da performance artística da banda.