
Tal como a sociedade em geral, que balança entre o receio da pandemia e a urgência de seguir em frente, o universo televisivo português teve um ano marcado pela indefinição e pelo adiamento de mudanças e inovações. A hierarquia entre os canais pouco ou nada mudou em relação ao ano anterior. A SIC liderou do princípio ao fim, umas vezes mais apertada, outras mais à vontade. A generalidade das apostas da TVI não surtiu efeito, e mesmo as que revelaram bom desempenho acabaram por soçobrar devido a erros táticos. Exemplo disso é a desvalorização simbólica do Big Brother. A RTP, pelo seu lado, teve em 2021 nova administração, liderada por um antigo jornalista, Nicolau Santos, mas que, até ao momento, não conseguiu inverter o rumo da empresa. Só as eleições poderão eventualmente desfazer alguns bloqueios, como a propalada falta de recursos, que, porém, deve ser bem explicada aos portugueses. O ano que agora termina não teve uma figura do ano que se revele incontornável. Porém, acentuaram-se os reinados de Fernando Mendes, em O Preço Certo, de José Rodrigues dos Santos e Rodrigo Guedes de Carvalho, na informação, dois nomes cada vez mais no auge das suas carreiras, e de Catarina Furtado, no grande entretenimento. João Baião, Diana Chaves e Júlia Pinheiro dominam o entretenimento ligeiro do day time. O regresso de Fátima Lopes também foi uma boa notícia. O crescimento das plataformas de streaming, o recuo das críticas da TVI à medição de audiências da GFK e a agonia da RTP2 merecem também referência nos arquivos do ano.
PROGRAMAÇÃO - NOITES DE DOMINGO
O regresso d’A Máscara aos fins de semana da SIC é uma boa notícia no que à diversificação do entretenimento diz respeito. O programa é um verdadeiro show visual, e o dispositivo que mantém o suspense em redor de quem está por trás das máscaras é eficaz. A batalha dos domingos fica neste final de ano marcada pelo estranho abaixamento da qualidade média dos concorrentes do The Voice. Terá a produção facilitado, ou o programa está a precisar de um pousio?
INFORMAÇÃO - MODERNIZEM OS CONGRESSOS
O formato dos congressos partidários afasta os portugueses da política. A falta de ritmo e de tensão agravou-se ainda mais quando os partidos decidiram eleger os líderes antes mesmo das reuniões magnas, transformadas numa espécie de entronização cerimonial, e consequentemente desinteressante. Organizar uma sequência de discursos e contar com os diretos televisivos é um erro enorme da parte dos partidos, que só não ficam a falar sozinhos devido a uma espécie de "espírito de manada" dos canais tradicionais de informação: onde vai um vão todos. O congresso do PSD enfermou dos mesmos males.
SOBE - RICARDO COSTA
A informação da SIC teve um ano de sucesso. Liderança sólida ao almoço, à noite, e ao fim de semana. O Jornal da Noite é muitas vezes o programa mais visto do dia. As reportagens, investigações e novos formatos também reforçam o canal. Tem para 2022 um desafio enorme, e difícil, no cabo.
DESCE - ANSELMO CRESPO
A informação da TVI não conseguiu romper os bloqueios que marcaram o ano da estação. No final, o lançamento do canal CNN reforçou a dificuldade de afirmação dos jornais da TVI.
DESCE - ANTÓNIO JOSÉ TEIXEIRA
A informação da RTP perdeu estatuto, independência e audiência. O fim do programa de investigação Sexta às 9 é um erro com efeitos crescentes. No cabo, a RTP3 tem desempenho abaixo dos mínimos para uma televisão de serviço público.