
Já lá vão os tempos em que um congresso partidário era um espetáculo televisivo. A primeira vez em que participei na coordenação de um evento do género foi em fevereiro de 1995, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Tratou-se da eleição do novo líder do PSD depois de Cavaco Silva. Ganhou Fernando Nogueira contra Durão Barroso e Santana Lopes. Os estúdios foram montados nos camarotes da sala, e até houve momentos em que um pivot da TVI, Artur Albarran, entrevistou o comentador da SIC, Carneiro Jacinto. Nessa altura, o congresso elegia o líder, e essa emoção já não existe, a reunião começa já com tudo decidido.
Pior: quase 30 anos depois, a emissão de RTP3, SIC Notícias e CNN, este fim de semana, em redor do congresso do PS, foi exatamente igual às emissões de 1995. Chegam, montam um estúdio no local, fazem reportagem nos corredores, têm comentadores sentados à vez ao lado dos pivots de cada um dos canais, e vá de encher horas infindas de emissão. Resultado: CNN e SIC Notícias tiveram dos piores resultados dos últimos meses. No domingo, por exemplo, a CNN registou apenas 1,5% de share, número raríssimo, ou mesmo inédito, no canal. Na véspera, a SIC Notícias foi pelo mesmo caminho: 1,3% de share médio diário.
O mês de janeiro vai no início, mas, na ressaca do congresso, o balanço a fazer é o seguinte: até dia 7, dia da consagração de Pedro Nuno Santos, a SIC Notícias está a descer 24,7% em relação a janeiro do ano passado, enquanto a CNN perde, no mesmo período, 33,5%. Claro, a culpa não será só do congresso, mas os resultados anormalmente baixos desses três dias contribuíram muito para a hecatombe. Se os partidos não modernizam os congressos, devem os canais fazê-lo, com urgência, e terminar com estas transmissões preguiçosas que se repetem há décadas. Assim só se acentua o divórcio do cidadão com a política.
PROGRAMAÇÃO – SIC DISTANCIA-SE
A SIC apostou bem em antecipar 'A Máscara'. Quando a TVI lançou o 'Dança', já Manzarra levava balanço. Depois, fez regressar a principal arma, Araújo Pereira, no tempo certo – primeiro domingo do ano, dia de Big Brother. Finalmente, conseguiu aguentar o embate com a Quinta, um formato que pisca o olho até às crianças. A SIC arranca muito bem janeiro, e prepara-se para rentabilizar outro erro: a novela 'Festa é Festa' passou uma semana às 7h da tarde. Como dividia o público com Fernando Mendes, foi um flop. Veremos se não vai contaminar o horário nobre. O fim do sucesso desta novela seria uma verdadeira "bomba" resultante das más opções de grelha.
INFORMAÇÃO – NOVOS TALENTOS
Com o afastamento da guerra da Ucrânia do topo da agenda televisiva recuaram as estrelas e apareceram algumas revelações. A enviada da TVI, Helena Lins, mostra solidez na reportagem e sobriedade na presença em diretos, e é já das melhores enviadas especiais das estações generalistas a esta guerra que se eterniza. Aproveitemos para apreciar: a caminho do segundo aniversário do conflito, voltarão os repórteres consagrados.
SOBE – CLÁUDIO RAMOS
Volta a provar que é já sólido apresentador de reality shows em Portugal. No domingo, conseguiu um fenómeno raro neste início de ano: colocar a TVI a liderar, neste caso durante o 'Big Brother'.
MANTÉM – ANDREIA RODRIGUES
O resultado da 'Quinta' não foi nem bom nem mau – antes pelo contrário. Mistura de reality show e programa de paisagens e animais, vai ter que se definir: ou se destina a toda a família, ou é uma simples curiosidade para o público jovem.
DESCE – BRUNO CABRERIZO
É o rosto de mais um equívoco da TVI. Apostar desta forma num formato, como a estação está a fazer com o 'Dança', e depois colocar um desconhecido como um dos apresentadores, e ainda juntar um grupo frágil de concorrentes, só poderia dar mau resultado.