
Os teus dedos cravados na minha pele são uma linguagem imóvel, um palco de rotações animais, uma alucinação extenuante,
e o silêncio pára nos ouvir amar.
Quando me precipito sobre a ficção do teu corpo é como se uma pauta me franqueasse a entrada: antes a alegria total suspensa que uma labareda por concretizar.
Nada faz tremer mais os povos do que o pasmo de um veneno que cura, um precipício estranho: só foder é a arte suprema,
é de lá que nascem todos os génios.
Permito-me o toque, o físico, a poesia transgressora que me ressuscita a esperança: se há algo a favor do mundo é o orgasmo,
e o medo de ser o último.
Sou tua vítima e tu a minha, a pressa sem nome: o maior espectáculo é a coragem de enfrentar a armadilha, abdicar da metáfora e trocá-la pela carne.
Só o que nos mata é eterno.
Abandono agora a cama: saio daqui como entrei: dono de nada e do mundo. A teoria ensina tudo menos a selva. Há então que regressar ao começo da intensidade, à paixão arcaica, fundadora.
Só o abismo nos salva do abismo.
É fundamental destruir como processo de criação. Destruímo-nos de cada vez que nos separamos. É nessas ruinas que nos cortamos aos pedaços,
e pele a pele, no contrário da ciência, voltamos a costurar-nos desde a raiz.
Só a loucura explica o amor.
Sozinho, ao volante de um carro, recordo o pavor e a doçura, as paralisias inumeráveis, e escuras, da cobra que anda no meio de nós. Estás no centro do meu fogo, desde o umbigo até ao fundo.
Só amar é um luxo,
e tu.
Tamanho: s.m. Aquilo que não se mede a olho nu: és do tamanho do que sentes, nunca do que vês.