
Podias às vezes dizer que me amas, passar a mão pelo cabelo quando te deitas, sussurrar-me coisas bonitas ao ouvido,
ou coisas que mais ninguém poderia ouvir, melhor ainda,
podias às vezes ser o homem que me parecia que fosses ser, que me abria a porta quando saía do carro, que se vinha despedir de mim com beijos pela janela, pela varanda, que passava a vida a dizer que me amava,
e que depois me amava mesmo, melhor ainda,
podias às vezes partilhar comigo o que pensas, o que te vai por dentro, o que te faz fazer o que fazes, dizer o que dizes, o que deixa nervoso e o que te deixa feliz, o que percorres ao longo dos teus dias,
e levar-me contigo ao longo dos teus dias, melhor ainda,
podias às vezes fazer-me uma surpresa boa, pode ser um bilhete debaixo da almofada, pode ser cozinhar para mim, ou escrever para mim, ou arrumar a casa para mim,
ou desarrumar a cama comigo, melhor ainda,
podias às vezes olhar para mim com olhos de amar, aqueles olhos que tinhas e que deixaste de ter, abraçar-me quando eu menos esperasse, levantar-me no ar no meio dos teus braços fortes, cantar-me uma canção ridícula de amor,
ou ser ridículo de amor, melhor ainda,
podias às vezes deixar o trabalho mais cedo, vir para mim mais cedo, estender-te no sofá ao meu lado, ver a série que já não partilhamos, terminar o filme que deixámos a meio,
ou deixá-lo outra vez a meio porque o prazer é urgente, melhor ainda,
podias às vezes dizer-me que sou linda, que sou a tua rainha e que tu és o meu rei, apalpar-me às escondidas no meio da rua, no elevador apinhado,
ou parares o elevador quando estivéssemos só os dois, melhor ainda,
podias às vezes ser o homem perfeito, o homem mais completo do mundo,
ou simplesmente o meu homem, melhor ainda.
Tanto: adv. Aquilo que acompanha o que é amado; se não é amado nunca é tanto — só tão pouco.