
Quando for grande quero ser grande, sim, pai?,
o meu filho e um sonho,
somos todos sonhos,
e depois morremos,
há quem morra antes dos sonhos, e é essa a melhor das mortes,
o mais infeliz é o que perde os sonhos antes de perder a vida,
a areia da praia clara, quase branca, um castelo de príncipes e de princesas,
Quando for grande vou salvar o mundo,
e mal sabe ele que já salvou o meu,
antes de ti era uma pessoa feliz e nunca imaginei que me faltava tudo,
um filho é o que nos falta na vida mesmo que não nos falte nada, não é?,
e uma família feliz é aquela em que ninguém precisa de ninguém e em que todos precisam de todos,
parece incoerente mas é só amor,
Quando estiveres com medo diz-me que eu dou-te um abraço, sim, pai?,
o abraço existe para apertar o medo,
ou pelo menos para nos salvarmos dele por mais que ele exista,
o abraço existe para nos dar a coragem que falta, e falta tantas vezes, não falta?,
somos tanto de medo como de sonho,
e é aí que o amor entra, é aí que o amor faz a diferença,
quem ama tem sempre mais sonho do que medo,
é isso,
quem ama tem sempre mais sonho do que medo,
porque amar faz sonhar,
por mais que amar também meta medo,
e mete tanto, tanto,
e se lhe acontece isto?, e se lhe acontece aquilo?,
e se?,
Quando vires um obstáculo diz-me que eu ajudo-te a saltá-lo, sim, pai?,
e assim o amor se define completamente,
ama-se para saltar obstáculos juntos,
é o amor que nos faz superar o que dói,
por mais que amar doa,
e dói tanto, tanto,
mas depois chega o abraço, e o beijo, e subimos juntos e saltamos juntos,
amar é saltar a dois cada momento difícil, amar é juntar o que somos para nos livrarmos do que não queremos ser,
Quando for grande quero ser teu filho, sim, pai?,
sim, meu filho,
prometo,
prometo tanto, tanto.
Refúgio: s.m.: Regresso ao começo de ti; só quem tem onde se encontrar consegue evitar perder-se em definitivo.