
— Fazes sempre o que queres?
— Sempre. Desde que seja o que ela quer.
O amor é uma acção voluntária obrigatória: uma imposição tácita. Ou amas ou morres.
Quando não amas e não morres já estás morto há muito.
— E como defines o limite?
— Qual limite?
— O daquilo que estás disposto a fazer por amor.
— Se o estou disposto a fazer é porque está dentro dos limites.
— Amar é fora dos limites.
— Amar é o limite.
— ...
— Se me parece fora dos limites então já não é amor nenhum.
Ama-se o que nos tira do sério. É isso, só isso — o que nos tira do sério —, o que devemos levar a sério. E é com isso, só com isso — com o que nos tira do sério —, que devemos brincar. Brincar é o amor primeiro: ama-se para se ser feliz, só isso. E é tudo.
— Já foste infeliz por amor.
— Felizmente sim.
— Amar tem de magoar.
— Amar tem de ser.
— E o que tem de ser tem muita força.
— O que tem de ser é a força.
— ...
— Somos movidos pelo que tem de ser mas que não fazemos por obrigação.
— Amamos porque tem de ser.
— É a nossa obrigação.
— E nem assim o fazemos por obrigação.
— Obrigado.
— Obrigado.
Despediram-se e foi cada um para o seu lado: cada um para o seu amor. O autocarro, esse, seguiu o seu caminho, com muitos amores dentro.
Redenção: s.f.: Capacidade de encontrar a liberdade no interior da falha; os bons humanos falham; os maus humanos não. Mas os maus humanos não são humanos nenhuns.