
Regresso aos acontecimentos que, na semana passada, puseram a França em polvorosa. E faço-o porque se não é possível comparar o gigantismo deste País com Portugal, existem analogias que merecem melhor atenção para compreender os problemas que se manifestam nas fases agudas das insurreições e que chocam de frente com a Polícia.
As redes sociais não tiveram descanso por estes dias. Até jornalistas, de quem se espera uma distância crítica mais criteriosa, embarcaram na nau Catrineta que coloca comunidades hétero excluídas contra polícias. Esta versão simplista das questões, esconde o cerne do grande psicodrama que atravessa os subúrbios das grandes cidades e, nas quais, se incluem as nossas duas grandes metrópoles – Lisboa e Porto.
O horror estético provocado pelos bairros de lata periféricos, ajudou à multiplicação dos decentemente designados bairros sociais. A ideia peregrina e ingénua baseava-se no seguinte: estas multidões de miseráveis que rodeiam as grandes urbes, ficariam com os problemas resolvidos se lhe fossem entregues habitações com os mínimos de funcionalidades materiais e a paz seria devolvida. Foi assim que nasceram e se multiplicaram os bairros sociais por toda a Europa. Do ponto de vista urbanístico as cidades ficaram mais bonitas, do ponto de vista social os bairros sociais apenas esconderam fenómenos graves de delinquência, de tráfico de droga, de prostituição, de anomia, que a política não foi capaz ou não quis responder. E como é normal, quando a política se demite, quem surge como o inimigo é a polícia, pois é o seu braço armado, para impor a ordem que o poder deseja. O bairro social deveria ser a primeira pedra da virtude. Seguir-se-ia a implementação de escolas, de políticas sérias de emprego, de assistência social, de educação ativa para os valores da urbanidade. Nada disto aconteceu. O bairro torna-se em gueto, em território de exclusão, da sobrevivência mínima dos mais abandonados. A política abandona, o crime apropria-se do território abandonado e o ódio determina condutas. Quer dos jovens expropriados de vida e sonhos, quer da polícia, incapaz de resolver problemas que a política abandonou. E, agora, é tarde. As tensões cresceram, a exclusão institucionalizou-se e qualquer caso é o pretexto para a explosão do ódio e da revolta.
Do ponto de vista urbanístico as cidades ficaram mais bonitas, do ponto de vista social os bairros sociais apenas esconderam fenómenos graves de delinquência, de tráfico de droga, de prostituição, de anomia, que a política não foi capaz ou não quis responder. E como é normal, quando a política se demite, quem surge como o inimigo é a polícia, pois é o seu braço armado, para impor a ordem que o poder deseja.