
São mercenários do sonho. Procuram crianças em Portugal e em África que têm habilidade para jogar futebol e contratam-nos. Na cabeça de muitos pais, o sonho está comprado. Na cabeça de todos os putos, o caminho para a glória está aberto. Não leram a Bíblia, não leram S. Mateus que já nos previne que muitos serão os chamados, mas, só alguns serão escolhidos. E chegam as desilusões. As carreiras futebolísticas mirram conforme a idade avança e os alimentadores de sonhos de ontem, rapidamente os dispensam, pois, não há tempo a perder com vencidos. Existe uma imensa, uma infinita fileira de potenciais estrelas que fulgem no céu da imaginação. E não há tempo para consolar quem, no campo, não brilhou à altura dos predadores de sonhos.
A denúncia foi feita este fim de semana. Muitas crianças recrutadas em África, pelos clubes nacionais, vivem abandonadas pelas ruas do País. Não basta a glória não ter chegado. Ficam sós, sem carreira e sem vida afetiva, longe das suas terras e das suas gentes.
Segundo me apercebi, a única entidade que ainda se preocupa com o assunto é o Sindicato dos Jogadores e que tem resolvido alguns problemas, ajudando os jovens a regressar. Uma função nobre que honra esta estrutura sindical.
Os predadores ignoram os problemas que criaram, as frustrações que desenvolveram, as expectativas traídas. A máquina de produção de elites futebolísticas é capaz de necessitar de centenas de rapazes para criar um astro. O valor milionário do vencedor desta cadeia assassina de esperança, que se discute sempre na ordem dos milhões, não dá para que os predadores gastem umas centenas de euros para devolver à procedência meninos com os sonhos mutilados.
Se houvesse decência, as instituições governamentais que era suposto cuidar da juventude e do desporto estaria de olho nestes jovens. Não se deixaria substituir pelo sindicato dos jogadores.
Parece não ser assim. Infelizmente.