Jamie tem 12, 13 anos, e, certa manhã, a Polícia armada britânica rebenta a porta da sua residência, acordam os pais e a irmã e o rapazito acorda sobressaltado com metralhadoras apontadas à cabeça. É uma cena de violência brutal mas que cumpre rigorosamente o protocolo de captura de suspeitos de crimes graves.
Perante os pais atarantados com a invasão policial que continua com buscas, revolvendo toda a casa, Jamie é conduzido para a esquadra. Os pais vão no encalço da Polícia sem perceber o que teria feito aquele jovem ainda criança para tão grande e brutal aparato.
Na esquadra acabam por saber que o miúdo é suspeito de ter matado uma colega de escola, da sua idade.
A série chama-se 'Adolescência', foi produzida pela Netflix e está em exibição. O impacto foi tal que rapidamente se tornou um caso de estudo em universidades, nas rádios, na comunicação social em geral. Chamo a atenção dos pais para que não deixem de ver esta ficção. Jamie e o homicídio são um mero pretexto para refletir sobre pais e encarregados de educação. O que fazem as nossas crianças na escola? O que aprendem? O que os motiva? O que fazem nos tempos livres? Qual a importância do telemóvel, das redes sociais, dos novos vocabulários no seu linguajar e na relação com os outros?
A minissérie sacode-nos como se nos quisesse despertar. Para nos libertarmos do comodismo e das ideias pré-feitas. Estilhaça a nossa ideação sobre meninos bem comportados, o sossego de os saber no quarto, em silêncio, embevecidos com o telemóvel, nem sequer imaginando para a internet e as redes sociais os levam, potenciando a ansiedade, o delírio de imaginação, a perturbação psicológica, a doença mental.
Adolescência trata da imensa solidão que atormenta os nossos jovens, perdidos nas redes sociais, clandestinos, ausentes, embora no conforto do lar. Interpela-nos pelo tempo que não tivemos para eles, na pressa dos dias, da correria pela vida de manhã à noite sem cuidar para além da confortável sensação de que estão na escola ou estão em casa. Percebe-se que estar é a forma mais terrível de solidão. Porque nós não estamos com eles, embora sob o mesmo tecto. Uma série – ensaio imperdível!
Correio do leitor
‘Gostaria de saber qual é a sua opinião sobre o uso de telemóveis nas escolas. Faz bem aos alunos? O seu uso é pernicioso? ” Gisela Picanço, Grândola
Vivemos numa cultura onde temos o instinto de nos libertar da culpa. Os telemóveis nas escolas é disso um exemplo. Em vez de discutirmos os telemóveis, seria bem melhor refletirmos sobre os pais que temos, sobre a sua responsabilidade educativa, e só depois irmos discutir as escolas. São os pais que compram os telemóveis e não os controlam. Este é um exercício de autocritica coletiva que um dia destes somos obrigados a enfrentar.
