
O ano de 2023 esfuma-se pelas estradas do tempo, tão frio e despojado de esperança que mais pareceu o nosso Inverno espiritual. Deixa feridas profundas que magoam. Ficam memórias negras que, apesar de toda a encenação festiva, perduram e nos remetem diretamente para os novos dias que estão a chegar.
Não foi apenas a continuação da carnificina na Ucrânia. Não foi só a barbárie que regressou com toda a crueldade ao Médio Oriente. A fome cresceu. A pobreza cresceu. A miséria moral e material salpica a Terra inteira. O negócio das armas atingiu o seu esplendor. O tráfico de pessoas fez regressar a escravatura. Este ano, que agora finda, mostrou-nos esse retrato diabólico do nosso País. Existem escravos em Portugal. Como se não chegasse de vergonha, existem milhares de alunos que ainda não têm professores. Como se não bastasse, os serviços de Urgência dos hospitais transformaram-se em saltimbancos. Como não houvesse mais nada para fazer, um governo atirou fora uma maioria absoluta cercado por dentro, explodindo por fora, incapaz de desfazer dores. Como se fosse possível irmos mais fundo, chegaram duas gémeas que semearam indignação e descrença nas instituições do Estado, incluindo o mais alto magistrado da nação. 2023 instalou o descrédito e a desconfiança. Abre as portas ao Ano Novo cheio de feridas, de mágoas e de aflições.
Desejo – não passa de um desejo que temo que não se torne em realidade – que em 2024, sejam mais felizes. Que a vida possa ser usufruída com alguma alegria. Que a esperança renasça nos vossos corações.
Era bom que o novo ano fosse o açaime que sustivesse a mediocridade, que parasse as guerras, que fizesse regredir a fome, quer permitisse às grávidas a paz necessária quando chegar a hora da maternidade. Sei que é pedir demais. Que se lixe!
Deixo 2023 sem saudades, deixo-vos um abraço fraterno para que 2024 cumpra os vossos sonhos.