
O ano ainda mal começou e já foram assassinadas cinco mulheres no âmbito da violência doméstica. Começamos mal. É como se vivêssemos uma praga.
E o pior desta tragédia é que as autoridades políticas continuam a persistir nas estatísticas judiciárias em vez e irem ao fundo dos problemas. Que não haja ilusões. Não é a prisão a solução para aplacar a fúria assassina. Castiga, mas é por demais evidente que não tem uma função preventiva. Além de que mitiga os casos de ofensas corporais, e não avalia os homicídios dentro do quadro da violência gerada no âmbito familiar.
Matar é sempre o final de um percurso que, a maioria das vezes, tem atrás de si, anos e anos de conflito, de brutalidade expressa por ações ou por palavras. Matar é o ponto de chegada. Nunca é o ponto de partida.
Julgo, com elevada convicção, que as causas para a violência doméstica radicam em outras áreas do poder que não o castigo penal. Nomeadamente nos falhanços do domínio da educação. A escola desempenha um papel fulcral no psicodrama que constrói os jovens para a cidadania. Para o reconhecimento da igualdade de género, para que cada jovem se sinta impelido para o respeito comum, afastando-se da violência e do reconhecimento da força como elementos fundadores do poder patriarcal. A escola tem esse desafio para cumprir. Desafio que não cumpre, iludindo a questão essencial a que os pais também se eximem.
Na verdade, o que escolhemos para os nossos filhos? Que sejam bons a matemática, a geografia, a inglês, a português ou interessa muito mais que eduquemos boas pessoas? Que lhe entreguemos uma sólida formação moral e cívica ou nos aconcheguemos, satisfeitos, porque têm boas notas?
A verdadeira aposta para combater a violência está no esforço que se faz para que meninos e jovens apreendam o valor da alteridade, da amizade, do bom companheirismo. Nos campos de concentração nazis, trabalhavam cientistas realizando experiências pavorosas com os infelizes que ali se encontravam detidos, muito deles brilhantes alunos. Porém, eram más pessoas.
A escola é a chave da porta para a humanidade. Arredá-la da violência doméstica tem sido o principal erro para, mais tarde, chorarmos as suas vítimas.