
Não adivinho um bom fim ao tão falado Reino do Pineal, fundado informalmente na zona de Oliveira do Hospital. Não conheço, a não ser pelas notícias e comentários que surgem na comunicação social. Segundo se sabe, e isso é grave, vivem sem grande respeito pela ordem constitucional portuguesa. É obrigatório para todos nós, uma série de obrigações que se traduzem no reverso no uso de direitos de cidadania. Pelos vistos, a comunidade pineal, que deve rondar 50 pessoas, está nas tintas para esses preceitos e vive, segundo princípios que estarão a agredir as mentalidades boazinhas, bem comportadas, que odeiam a diferença. Pelo que se lê, até agora cometeram um único crime. Não declararam o óbito de uma criança que morreu e cremaram-na sem autorização camarária. Porém, deve dizer-se que, durante um ou dois anos, o Estado não quis saber. Só agora, depois de bastas notícias sobre o assunto, lá estão as autoridades de olho aberto. E faz bem.
Porém, entusiasmados com este pecado criminal, os velhos bruxos e inquisidores, com roupetas diferentes dos tempos antigos, indignam-se, escancaram as goelas, deixando escorrer doutrinas do bem contra os piores pecados do reino. Ouvi e vi os argumentos num debate televisivo. Que a seita (?) anda descalça, é negacionista, acredita que a Terra é plana, será polígama, vivem um amor exacerbado pela Natureza, que se vestem de forma esquisita, não acreditam que o homem chegou á lua e por aí adiante. Era manifesta a repugnância pela diferença, o motor de arranque que faz explodir a tolerância, a capacidade de conviver com padrões de vida dissemelhantes da regra geral da moral e dos bons costumes, tidos como bons. Talvez seja uma seita, coisa que ainda está por esclarecer. Talvez seja apenas um grupo de pessoas com pensar comum, conservador, que não reconhece o valor da ciência. Talvez não cumpram as leis do Estado português. No entanto, só, e apenas só, esta premissa merece a atenção das autoridades. O resto dos comportamentos e crenças pertencem à liberdade individual.
Os crimes que terão cometido devem ser investigados. Mais do que isso, é o ressurgimento das Cruzadas contra os infiéis. O que diz pouco sobre o reino do pineal, mas diz muito sobre a desnutrição humanista de quem os quer ver devorados nas chamas do Inferno.