
É sempre um alvoroço quando desaparece uma criança. Seja onde for. A tenra idade faz disparar a compaixão. Desta vez, foi algures em França e o menino Émile, que ainda não tem 3 anos, desapareceu misteriosamente da casa dos avós. Uma semana depois, não há rasto da criança e teme-se, por cada dia que passa, que notícias negras surjam no horizonte.
Nestas circunstâncias, quando se adensa o mistério, quando a esperança de o reencontrar vivo e com saúde conflitua com as expectativas mais pessimistas, especular sobre os caminhos desta criança, sobre o que lhe terá acontecido, onde estará, apenas exercita o medo e pouco ou nada contribui para que o menino seja encontrado. Isso é matéria para as autoridades que estão no terreno e que, acredito, procuram denodadamente uma explicação para o desaparecimento.
Trago o caso como pretexto para outro tipo de considerações. Nós tomamos consciência de que, em dia e hora que desconhecemos, iremos morrer já numa fase avançada da infância. Só por volta dos 8, 9 anos descobrimos a natureza devastadora e irremediável do morrer. Não admira, pois, que a consciência do risco seja correlata da compreensão desse evento.
Não admira que para crianças, abaixo daquelas idades, não exista essa capacidade de avaliar ameaças à vida. Daí a necessidade de atenção constante sobre aquilo que fazem, o que levam à boca, o que os leva a correr sem destino certo. Bastam segundos de distração para que acidentes graves possam acontecer. Por exemplo, é raro passar um verão sem que não tenhamos notícias de um infante afogado na piscina da sua residência ou na praia onde foi levado pelos seus responsáveis.
Espero que encontrem o pequeno Émile vivo e com saúde. Que este caso seja um novo alerta para pais e educadores de uma forma geral, para o cuidado exigente de que somos obrigados a estar armados quando os nossos putos descobrem a alegria do andar, do movimento livre e, num piscar de olhos, desaparecem do nosso controlo. São demasiado valiosos para os chorarmos tão cedo.