
Vivemos um tempo político de decadência, onde o encontro com a realidade é fugaz, presos a palavras gastas pelo tempo e pela ausência de sentido. Palavras vazias. Palavras prostituídas que se dissolvem no palavreado que manipula, disfarça, ilude. Palavras que mentem.
O caso TAP revela até à saciedade o vazio, a imensa tristeza escondida na mentira que se repete, que se constrói, para lançar confusão e lama na cabeça do cidadão com pouco discernimento, porque os magotes de palavras sem sentido esvaziaram o interesse por um assunto que se tornou na gestão danosa das almas. Na verdade, sabemos hoje, que "palavra dada é palavra desonrada" e chegam-me à memória os versos de Eugénio de Andrade: Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,/ e o que nos ficou não chega/ para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio.
Cometeram-se crimes na gestão da TAP? É possível. Porém, aquilo que prende a já pouca atenção sobre o assunto, pese o esforço da comunicação social para não o retirar da agenda mediática, são os crimes cometidos em torno da TAP. Escondidos nas mentiras e na manipulação das consciências e no palavreado vazio. Governantes, ou quem pensa por eles, inventou o crime de roubo para afastar um adjunto e, hoje sabem que não houve qualquer roubo. A ferocidade para abater inimigos/adversários faz das palavras, balas contra a integridade da honra de quem se opõe. Esforçam-se as autoridades específicas para salvar o SIS da intervenção na procura de um computador. Manipulam e escondem com palavras de mel um dos ataques mais surpreendentes ao Estado de Direito. E encobrem a ignorância, a ignorância de quem nos governa que confundem SIS com PSP ou com PJ. É tudo igual, sendo tudo tão diferente. É a decadência nas vísceras do poder que nos governa. Já gastámos as palavras pela rua, meu amor para que delas não se espere a verdade. Apenas um número de circo, de ilusões que desiludem, de passes de mágica onde as palavras, já tão gastas, no querem fazer crer em fantasia inacreditáveis. Gastámos tudo menos o silêncio-