
A violência assassina é a mais enigmática das emoções que leva alguém à mais radical das decisões: matar outro ser humano. Nasce de muitas fontes. Da raiva, do ódio, do desejo de vingança, do desequilíbrio emocional resultante do álcool, da droga, de perturbações psíquicas onde deixa de ser possível a destrinça entre o Bem e o Mal.
É o crime mais grave da esmagadora maioria dos códigos penais no Países de todo o Mundo. De tal modo censurável que em alguns deles, e em alguns Estados (nomeadamente nos Estados Unidos), a retaliação judiciária chega à pena de morte.
Aconteceu em Setúbal. Os motivos próximos são desconhecidos. Um indivíduo entrou em conflito com três vizinhos. Segundo testemunhos indiretos, terá sido uma discussão sobre galinhas e cães esfomeados que as atacaram. Ou talvez tenha sido por causa dos pombos já que algumas das vítimas se dedicavam à columbofilia e os crimes foram próximos dos pombais. Ou talvez tenha sido por causa de uma horta que o homicida possuía no mesmo local. Não se sabe. E não se saberá. O matador disparou contra os três indivíduos, matando-os e, de seguida, disparou contra si, autodeterminando a sua própria morte. E, assim, de repente, em poucos segundo ou minutos, quatro pessoas morreram vítimas da violência assassina.
Dificilmente se saberá o que aconteceu. Nem haverá processo-crime, pois o possível autor está morto. Fica o caso arquivado e sem explicações. E fica aquele nefasto momento em que a cólera ou o transtorno psíquico fez explodir o que de mais animal e grotesco habita cada um de nós. Na verdade, sendo o crime mais grave é aquele que ninguém pode dizer que não cometerá. Basta cada um dos leitores imaginar-se em situações limite de sobrevivência ou alguém que amam.
A fazer fé nos testemunhos indiretos, também os cães foram mortos. A fúria assassina é, em si mesmo, um apocalipse que se liberta dentro de qualquer ser humano.
Apenas, restaram os pombos. Oxalá as gaiolas estejam abertas para poderem voar em liberdade