
São o horror as imagens que nos chegam da região de Valência. Povoações destruídas, infraestruturas desmanteladas, sucessivos cemitérios de automóveis, ruas e prédios destruídos pela fúria da tempestade. A lama tornou-se em marca da tragédia. Toneladas de lama que parecem engrossar conforme os trabalhos de recuperação avançam. É o caos.
No que respeita a mortos, as autoridades avançam números receosos. As centenas de desaparecidos não auguram nada de bom.
Perante a brutalidade do acontecimento atmosférico percebe-se a angústia da população queixando-se da fraca reação da Proteção Civil. Porém, quando os ânimos estiverem mais sossegados, perceber-se-á que a incapacidade para reagir à catástrofe se deve ao facto de não ter poupado ninguém, desmantelando, pela violência, qualquer estrutura de suporte e de apoio às populações.
Por outro lado, se as imagens da hecatombe magoam o mais insensível dos mortais, não é menos verdade, que se torna emocionante ver aquelas que resultam da reação popular ao desastre.
Devido à falta de mobilidade, as televisões têm mostrado longas filas de homens e de mulheres, armados de baldes, enxadas, baldes que se prolongam por quilómetros, levando ajuda a quem de tudo precisa. É comovente ver estas imensas procissões de espanhóis prestando socorro às vítimas do cataclismo. A manifestação mais radical de voluntariado, o exemplo maior da solidariedade, a mais nobre lição de compaixão humana para com quem sofre, para quem tudo perdeu e que, por certo, sente esta enorme corrente de vontade e abnegação como se fosse um abraço de conforto.
Tragédias desta dimensão não se esquecem. Ficam impregnadas em cada um dos sobreviventes, extravasam as comunidades afetadas pelo sofrimento, deixando enormes cicatrizes que o tempo não dissolve. E mesmo que assim seja, que toda a Espanha assim como os homens bons e livres de todo o lado, guardem também as imagens da solidariedade que o povo nos deixou, mostrando que o altruísmo não tem limites.