
O triplo homicídio homicídio que ocorreu m Lisboa, na semana passada, deu origem às mais desencontradas opiniões onde os militantes das verdades absolutas viram, sem margem para dúvidas, sinais de racismo, de xenofobia e, até, o Chega, num momento de maior delírio, quis ver no crime uma motivação política.
As notícias que chegam dão conta de um outro fenómeno que não é entendível quando se está focado num caso isolado. O agressor terá disparado contra o barbeiro porque este não lhe quis cortar o cabelo, argumentando que era a sua hora de almoço. Terá sido esta contrariedade momentânea (cortar o cabelo não é uma urgência) que terá puxado o gatilho mental do homicida, cuja fúria não se esgotou no primeiro assassinato, pondo termo à vida de mais duas pessoas que, por acaso, se encontravam próximas.
Em Criminologia esta vontade assassina é catalogada nos crimes com motivações fúteis. Isto é, a grandeza do ato criminoso é desproporcional em relação ao comportamento da vítima que nada terá feito, no que respeita aos comportamentos socialmente tidos como normais, para fazer espoletar a quantidade de violência que existe num homicídio.
Se nos distanciarmos da notícia, de forma a olhar para um noticiário mais amplo, percebemos, sem dificuldade, que crescem os homicídios por motivos fúteis. Coisa que nos remete para o território dos agressores e para os problemas da saúde mental.
Portugal é um dos países que comanda o consumo de antidepressivos e outros medicamentos para ajuda a desequilíbrios mentais. Para além do brutal consumo de drogas ilícitas que cruzam as grandes cidades. E bem se sabe que, neste aspeto, o país não ocupa lugar cimeiro no que respeita a uma boa política de Saúde Mental.
Apetece-me dizer, apenas por intuição empírica, que a crise financeira que trouxe o FMI a Portugal, a que se deve associar os graves danos causados pela pandemia de COVID deixou a população numa profunda ressaca, deprimida, assustada, revoltada a que as falsas notícias do fim da austeridade não ajudaram nada. A maioria dos homicídios de que os jornais dão notícia têm explicação popularmente conhecida pelo agressor ter os "nervos à flor da pele".
Talvez não fosse mal pensado, para quem tem o poder, debruçar-se sobre a Saúde Mental para ajuda aos cidadãos. Talvez reduzíssemos os homicídios fúteis.