
Há muito que deixei de ser frequentador, ou mero assistente televisivo, de congressos partidários. Do ponto de vista simbólico, são rituais de louvaminha ao chefe do momento, com maior dimensão calórica se o chefe é primeiro-ministro. Não ficamos mais esclarecidos, apenas mais gordos. E entediados.
Depois, há uma tendência quase obscena para dissimular figurões, baixando o nível da coisa para só vermos figurinhas. O País não está ali. O País é um pretexto para dar convencimento a textos sem fulgor, ditos ou gritados, conforme o estilo de cada sacerdote.
Vou dar um exemplo. Com desejo de cortar pela raiz o som à grafonola do Chega, um desafinado coro que faz da insegurança o amor da sua vida, o recente cardeal patriarca, durante a última homília, terá garantido mais videovigilância sobre o espaço público, mais polícia de proximidade, e agora cito a notícia ‘‘com a criação de equipas com elementos da PJ, PSP, GNR, ASAE, ACT e Autoridade Tributária, sob articulação do sistema de segurança interna". O objetivo, explicou, é irem para o terreno "combater sem tréguas a criminalidade violenta, o trafico de droga, a imigração ilegal e o tráfico e abuso de seres humanos".
Como se vê, é a granel. Só algumas perguntas. Quem lidera esta açorda de polícias? O que fará a ASAE no combate à criminalidade violenta ou a Autoridade para as Condições de Trabalho para travar o abuso de seres humanos? Ou a Autoridade Tributária no combate sem tréguas à criminalidade violenta? Quem será responsável pela definição da tática e da estratégia para liderar as enormes equipas a constituir?
Como se percebe, nada disto faz sentido. Se levássemos a sério o que ali se diz ficávamos na dúvida se é um lugar onde existe gente preocupada com o País ou se apenas o usa para dizer disparates e recolher aplausos fáceis. Só para tornar a coisa ainda mais ridícula, acreditando na "criação" destas equipas, alguém imagina uma das unidades de anti-terrorismo da PJ a discutir planos de investigação com funcionários das finanças? "tráfico e abuso de seres humanos" com a ASAE?
Seja como for, o circo acabou com muitos abracinhos, muitos beijinhos, muito amor às políticas reformistas e lá foram os nossos políticos todos contentes. Porém, nem um único estadista deu sinal de si.