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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

Alegria com lágrimas

Por cada dia que passa, encontram-se menos sobreviventes, ganham maior força as listas de mortos e desaparecidos e passada uma semana sobre a tragédia, encontrar um sinal de vida é como procurar uma agulha num palheiro.
19 de fevereiro de 2023 às 12:19
Sismo, Turquia
Sismo, Turquia Foto: Getty Images

São estarrecedoras as imagens que nos chegam do sismo que afetou a Turquia e a Síria. A destruição de cidades e vilas, os cadáveres recolhidos a eito, o desespero daqueles que perderam os seus entes queridos, os hospitais de campanha atulhados de feridos e moribundos, perturbam o mais insensível dos homens. Sabe-se como é. Por cada dia que passa, encontram-se menos sobreviventes, ganham maior força as listas de mortos e desaparecidos e passada uma semana sobre a tragédia, encontrar um sinal de vida é como procurar uma agulha num palheiro.

É neste contexto de dor, morte e sofrimento, que as equipas de salvamento ganham uma outra dimensão. Homens, mulheres e cães, chegados de vários pontos do mundo vasculham destroços, espreitam buracos impossíveis, sondam as ruínas dos prédios que desabaram e, de repente, faz-se silêncio. As máquinas param, os trabalhos param, as palavras calam-se. É preciso escutar com maior  atenção. Há mais um sinal de vida debaixo dos escombros, da vida que rareia cada vez mais no meio do imenso apocalipse. E a excitação dos salvadores redobra. As máquinas tornam-se cautelosas, os cães não param de ladrar insistindo na descoberta de mais uma vida que pode ser salva. São momentos de ansiedade e aflição até que, por fim, surge um braço, depois uma cabeça, faz-se uma último esforço, e uma criança, uma grávida, um velhote são arrancados do garrote da morte graças ao esforço solidário das equipas de salvamento.

Uma alegria varrida pelas lágrimas invade os socorristas. Abraçam-se, rejubilam, beijam-se. Naquele salvamento, naquela pequena vida, resgatada do imenso despojo sísmico, é como se nele tivessem salvo todos aqueles que pereceram. É como se aquela frágil vida salva, fosse a vitória absoluta contra a morte.

Sabemos que não é assim. Cada hora, cada dia que passa, se escutará cada vez menos os cães a latir, dando alertas, serão cada vez menos os sussurros dos prisioneiros debaixo do manto de pedras, e que se multiplicarão os mortos que a crueldade do sismo não poupou.

Bem hajam os homens salvadores! Glória eterna aos cães farejadores de vida! Está para breve o fim da alegria com lágrimas. Depois, só restarão as lágrimas.

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