
Começou o ano e, com ele, os discursos eleitorais com que somos brindados, de manhã à noite, numa cacofonia sem sentido. Se alguém tiver paciência para escutar os candidatos, e reconheço que é preciso muita paciência, perceberá que a política, como eles a entendem, é descobrir frases que causam impacto, criticar os outros, amedrontar votantes indecisos no género, votam em nós ou é o caos, oferecendo resmas de lugares-comuns, que não aproveitam nem ao corpo, nem à alma. Segue o chilrear dos comentadores que procuram esmiuçar intenções nas narrativas vazias em que não existem outros objetivos que não sejam manipular palavras e, com elas, manipular os eleitores. Nesta tragicomédia que de política só tem o arremedo e a encenação, que venha o Diabo e escolha.
Como é habitual, nem as polícias nem a justiça são preocupações neste circo de egotismos serôdios e medíocres. Não se ouve, nem se ouvirá uma palavra que seja, sustentada e fundamentada, sobre reformas importantes neste domínio fulcral da nossa vida comunitária. Não se ouve, nem se ouvira uma ideia, um plano, que torna a Justiça mais próxima dos cidadãos, que a fará mais barata, mais célere e mais eficaz. Não haverá uma palavra para as carreiras profissionais de polícias, nem de funcionários judiciais. Não existirá um plano que articule serviços de polícia e de justiça para modernizar e agilizar procedimentos nas várias áreas de intervenção a que estes instrumentos do Estado são chamados para tornar mais sério e mais eficaz o nosso viver coletivo.
Apenas palavras. Apenas juízos morais sobre os outros adversários como, se algum deles fosse o poço de todas as virtudes e os restantes, a imundície. E já se percebeu que as palavras ditas sobre estas matérias não são sérias. São um discurso enviesado, quase alarve, onde a ideia de que o Ministério Público, os Juízes, as Polícias querem subverter a ordem democrática quando, na verdade, são os promotores dessa verborreia sectária quem põe em causa o normal funcionamento das instituições. Um desalento! Um suspiro de desilusão perante o jogo desta democracia formal, mas ignorante, muito gritada e pouco pensada, nos encaminha cada vez mais para a decadência cívica e moral.