
É curioso que a SIC tenha escolhido a área dos 'reality shows' como campo de batalha principal contra a TVI. Longe vão os tempos em que Carnaxide proclamava uma suposta superioridade moral que a impedia de aderir aos formatos subsidiários do 'Big Brother'.
Ainda mais longínqua, e tendencialmente apagada da memória do canal 3, está a época em que um grupo de pessoas tentou simular o quotidiano acorrentando-se entre si, num concurso desastroso, chamado, precisamente, 'Acorrentados', que visava combater a verdadeira novela da vida real com que a TVI chegou à liderança, suportada no fenómeno Zé Maria, mais as suas galinhas.
Na esperança de que toda a glória do mundo seja transitória, a SIC aposta agora no Casados à Primeira Vista, o qual não variará muito daquilo que o próprio nome indicia. Ou seja: haverá concorrentes, alguns casarão, o programa há-de tentar que seja à primeira vista e, tanto quanto possível, à frente das câmaras.
A isso respondeu logo a TVI com um formato semelhante, 'First Dates', e esta frase merece análise cuidada: a TVI responder à SIC tem sido uma raridade no mercado, na última década, pelo que essa é a principal novidade do fenómeno e deixa entender algum receio por parte de Queluz de Baixo.
Haverá motivo para isso? Se a SIC se libertar do complexo de superioridade, e trabalhar para o espectador, sim, talvez haja. Mas se a SIC insistir no apoucamento dos formatos que ela própria se vê obrigada a comprar, aí a moral da história será a mesma de sempre. Porque a glória é transitória, mas o ADN dos projectos, não. E tentar contrariá-lo, em geral, é a pior receita.
FOGO EM MONCHIQUE
Eis que regressa o fogo e toda a sua aflição. A partir da experiência da CMTV, canal que os portugueses escolhem sempre que há uma emergência informativa relevante, posso testemunhar que a exigência dos espectadores cresce nestas ocasiões. Para nós, profissionais, isso é um acréscimo de responsabilidade.
QUE SE PASSA NA RTP INFORMAÇÃO?
Primeiro foi a tentativa de sanear Paulo Dentinho. Passada essa fase, afinal não chegou a estabilidade. Pelo contrário: nomeações por motivos políticos, chumbos na ERC, processos na Comissão da Carteira, críticas do conselho de redacção... já houve de tudo, e não se vislumbra o fim da confusão. Difícil entender tanto caos.
MARCELO A BANHOS EM TEMPO DE FOGOS
A semana foi pródiga na produção de imagens televisivas do Presidente a dar mergulhos em diversas praias fluviais. Os relatórios sobre os incêndios do ano passado apontam a dificuldade acrescida quando aparecem políticos. Marcelo foi quem mais usou e abusou dessa prática, o ano passado. Eis a solução encontrada pelo hábil político Marcelo, para evitar essa acusação, sem abdicar de marcar a agenda, e criando imagens sob todos os pontos de vista raras na democracia portuguesa.
AUDIÊNCIA COM ATRASOS
O atraso na divulgação das audiências, no passado fim-de-semana, é relevante. A culpa foi atribuída, entre outros factores, à meteorologia. É fundamental que o mercado se una na defesa da estabilidade nas medições de audiências. Sem essa estabilidade, que chegou a fraquejar no passado, é toda a indústria que perde. A promessa da GFK de tudo fazer para que não se repita é importante nesta fase.