
1. Chama-se ‘Terra Nossa’, é apresentado por César Mourão, passa aos domingos à noite na SIC e é uma lufada de ar fresco na televisão portuguesa, sem ser – como é que eu hei-de dizer? – nada de transcendente. Afinal, o humorista limita-se a andar de terra em terra a entrevistar familiares e amigos de algumas das estrelas da Selecção Nacional, que está a caminho da Rússia, país anfitrião do Mundial, que arranca já na quinta-feira, dia 14. O produto é tão leve e divertido, que, quando acaba, ao fim de 45 minutos, deixa os espectadores em casa com vontade de ver mais. Esse é o melhor elogio que lhe posso fazer.
E não admira por isso que as audiências dos dois primeiros episódios, primeiro com Cristiano Ronaldo, na Madeira, e depois com Rui Patrício, em Leiria, tenham sido excelentes, tendo em conta a estação que é, a viver uma grave crise financeira e de audiências. Se, com o avançado do Real Madrid e capitão da equipa das quinas, ‘Terra Nossa’ prendeu ao pequeno ecrã 975 mil portugueses, o segundo, com o guarda-redes, atingiu a marca de 1 milhão e 100 mil. Mais: o programa de César Mourão concorre com o polémico e caro ‘reality show’ ‘Casa dos Segredos’, da TVI, para o qual perde por poucos, mesmo não tendo sido minimamente promovido pela SIC, deixando no ar que quase ninguém acreditava no seu potencial em Carnaxide.
E assim talvez se explique melhor o facto de terem sido feitos apenas quatro episódios de ‘Terra Nossa’ – os outros dois são com Fernando Santos, o seleccionador nacional, e William Carvalho, médio do Sporting. Eu gostei do que vi, prometo que vou ver o que falta, e só lamento que esta aposta tenha sido envergonhada.
2. Há dias, perguntava-me um amigo: "Porque é que a RTP, que tem dos melhores profissionais, tanto no entretenimento como na informação, tem mais meios humanos e técnicos, e pode gastar dinheiro como ninguém para ter produtos de luxo – Mundial de futebol, por exemplo –, não tem melhores audiências?" Pensei uns segundos e expliquei-lhe: "Porque lhes falta tudo o resto, a começar por quem manda, que percebem pouco de televisão." Nuno Artur Silva (administrador) e Daniel Deusdado (director de Programas), de saída após um mandato de três anos na estação pública, encaixam bem na minha resposta ao David.