Ex-presidentes comovidos com exposição no Palácio de São Bento
Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva estiveram com o presidente da AR, Eduardo Ferro Rodrigues, na inauguração da mostra 'Futuros Presidentes', em que Luís Mileu e Ricardo Henriques apresentam projeto de educação em Moçambique.
Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva estiveram presentes esta quarta-feira, 11, na inauguração da exposição fotográfica 'Futuros Presidentes', de Luís Mileu e do escritor Ricardo Henriques, pensada pela Organização Não Governamental para o Desenvolvimento Helpo, e patente até ao dia 16 na Assembleia da República, em Lisboa.A mostra reúne 20 histórias de crianças que os autores recolheram durante os dias em que estiveram no norte de Moçambique, entre Nampula e Cabo Delgado. São histórias de sonhos e expetativas para o futuro desses jovens – que agora também pensam que poderão tornar-se Presidentes da República.
"Congratulo vivamente a Helpo pelo trabalho que está a realizar no norte de Moçambique, uma aposta muito forte na educação e esse o melhor contributo que podemos dar, para que as crianças moçambicanas do mundo rural possam abandonar as situações de misérias, e alguns casos mesmo em situações de fome", começa por explicar Cavaco Silva aos jornalistas.
Ao lado da mulher, Maria Cavaco Silva, o ex-presidente refere a sua "ligação afetiva muito forte a Moçambique".
"Vivi lá 2 anos, os nossos primeiros 2 anos de casados, não conheço Cabo Delgado mas conheço Nampula. Sei muito bem que nos espaços rurais não existem equipamentos escolares, não existe uma educação oficial do pré-escolar e, por isso, é uma expressão forte de solidariedade portuguesa proporcionar cursos para que as crianças comecem a frequentar a escola a partir dos 3 anos e depois ganhem amor à escola", acrescenta.
A antiga primeira-dama não esquece o anos em que viveu em Moçambique, entre 1963 e 1965, enquanto o marido cumpriu uma comissão militar. "Nos 2 anos que lá estive fui professora e regressei várias vezes. Quando regressei como primeira-dama fui recebida na minha ex-escola com um carinho extraordinário que foi dos momentos mais felizes da minha vida".
QUANDO A PALAVRA SONHO NÃO EXISTE
Para o fotógrafo Luís Mileu, "não foi uma grande surpresa perceber a nobreza do olhar das crianças, a forma de estar, a alegria que elas têm".
"É uma realidade muito diferente da nossa. Tinha tido um filho há pouco tempo e só nessas alturas valorizamos mais algumas coisas que nós, no dia a dia aqui, temos tendência a nos esquecer. Coisas primárias como a água, comida, eletricidade...", exemplifica.
O sonho de ser presidente tem sido criado a partir da educação. "A maior parte deles são filhos de agricultores e ser presidente realmente é um sonho que muitas delas não têm porque o sonho [na língua] macua não existe. Mas quisemos deixar aqui uma semente. Se conseguirmos fazer a diferença nem que seja para uma criança já terá valido a pena esse projeto", continua Luís.
A vontade de Ricardo Henriques é que a exposição saia do salão nobre da Assembleia da República e vá para as ruas. "Isso está ainda a ser negociado", diz.
Surge ainda outra preocupação: "as crianças que ainda não estão [a estudar]. Não têm uma madrinha ou padrinho, não têm uma ONG a ajudá-los, esses casos é que são mais graves. O mais importante é o futuro, elas têm apoio e poderão ser um dia presidentes se quiserem".