No passado, já esteve ligado à presidência do Benfica, como vice para a área financeira no mandato de Manuel Vilarinho, mas muitos só conheceram João Noronha Lopes, efetivamente, quando, em 2020, concorreu contra Luís Filipe Vieira, tendo ficado na segunda posição, com 34,71%. Em 2021, perante o cenário de eleições antecipadas, não faria frente a Rui Costa, mas este ano regressou em força para se afirmar como a alternativa à atual direção. No passado dia 25 de outubro, ficou em segundo lugar, com 30,26% contra 42,13% do atual líder, o que quer dizer que, e sem uma maioria absoluta, os dois partem para uma segunda volta, o que tem aumentado a curiosidade em torno de Noronha Lopes.
É que se, para Rui Costa, o percurso enquanto 'maestro' do Benfica faz com que seja uma figura conhecida e acarinhada pela maioria, o seu grande opositor parte com a desvantagem de não ser, à partida, um rosto de associação imediata para grande parte dos aficionados dos encarnados. No entanto, quem o conhece bem não tem dúvidas de que a sua paixão ao clube da Luz é inegável. "Criou quatro filhos benfiquistas, com cachecóis e idas ao estádio, passou o benfiquismo a vinte e tal primos", admitiu, em conversa com o 'Público' durante a campanha eleitoral de 2020 um dos quatro irmãos de João Noronha Lopes, que tem raízes alentejanas, mas que nasceu e seria criado em Lisboa, mais propriamente na zona do Restelo, onde reside.
Na juventude, curiosamente, passaria um ano a estudar nos Estados Unidos, onde o seu jeito para o futebol seria notado, no entanto foi sempre na retaguarda, em detrimento do relvado, que Noronha Lopes mais gostou de estar. Licenciado em Direito, chegou a exercer advocacia, mas seria como Gestor que acabaria por se evidenciar, tendo sido, entre 2002 e 2007, CEO da McDonald's Portugal e, anos mais tarde, assumindo cargos diretivos na mesma empresa internacionalmente.
“Tem sabido criar excelentes equipas à volta dele. Sabe escolher bem as pessoas. Mesmo num país pequeno e com recursos limitados conseguia projetar bem as equipas de trabalho que o rodeavam. Ele é uma pessoa muito íntegra na forma de lidar com os outros. Respira ética. E isso liga-se à transparência. Lembro-me de ele pensar ‘como é que se traz a transparência para dentro de uma empresa como a McDonalds? Vamos trazer câmaras de televisão a visitar as cozinhas, porque não temos nada a esconder’. Ele tem este lado de transparência total”, explicou na mesma reportagem John Alves, então vice-presidente da McDonalds, em Espanha.
No entanto, durante a campanha eleitoral, não seria este aspeto, mas os prejuízos de cerca de três milhões de euros nas empresas pessoais do gestor que acabariam por vir à tona, nomeadamente a Vira Frangos, Lda., empresa de restauração que acumulou prejuízos superiores a 2,8 milhões de euros entre 2021 e 2024. Apesar da polémica, Noronha Lopes justificaria gozar de uma situação financeira desafogada, garantindo que a dívida existente é aos sócios, nos quais se inclui. "Eu sou um gestor que está há 25 anos a gerir ao mais alto nível nas maiores empresas de todo o mundo. Reuni uma riqueza considerável do ponto de vista financeiro, que me permite uma vida desafogada. A minha situação financeira nunca foi tão boa como é hoje", explicou aquele que, para a sua candidatura, se uniu a nomes fortes do Benfica, como Nuno Gomes (candidato a vice-presidente) ou Vítor Paneira (diretor-técnico), e também a uma figura como António Bagão Félix, candidato a presidente do Conselho Fiscal. Noronha pretendia ainda trazer de volta ao clube Bernardo Silva, o que levou a fortes críticas de Rui Costa, que apontou o dedo àquilo que chamou de "demagogia e populismo" e "jogada eleitoral do passado".
A DISCRETA FAMÍLIA DE NORONHA LOPES
Durante a campanha eleitoral, João Noronha Lopes, de 59 anos, rodeou-se dos seus 'homens' de confiança, mas nunca o vimos ao lado da família, que preferiu manter-se sempre resguardada. Casado há décadas com a mulher, Joana, os dois têm quatro filhos já criados – o mais novo já tem mais de 20 anos – com dois deles a trabalharem fora de Portugal.
O Benfica e as participações nas competições europeias acabam, por isso, de servir de pretexto à família para se reunir, muitas vezes além fronteiras, como aconteceu em 2013, na final da Liga Europa.
“Quando foi a final da Liga Europa, em Amesterdão, frente ao Chelsea, encontrei lá a mulher do João. Perguntei-lhe o que estava ali a fazer e ela respondeu-me ‘o João obrigou-nos a vir todos ver o jogo. Ele deve estar aí a chegar de Paris’. O João tinha arranjado forma de a mulher e os quatro filhos se meterem em comboios e aviões, cada um vindo do seu sítio, para se encontrarem todos em Amesterdão para ver o Benfica. Ele tratou de tudo”, contou ao 'Público' Albano Homem de Mello, amigo de infância de Noronha, atestando o benfiquismo de todo o clã de Noronha Lopes, que se prepara para enfrentar Rui Costa na segunda ronda eleitoral da Luz, que está marcada para o próximo dia 8 de novembro.