Vilão de 'A Herdeira' fala depois de ter sido despedido da novela
É um dos atores mais promissores da sua geração, mas as polémicas a que o seu nome tem estado ligado acabam por lhe marcar a carreira com altos e baixos. A mais recente foi a sua dispensa do elenco de 'A Herdeira', por estar mais fragilizado com a morte da avó. Esta é a primeira entrevista de Pedro após toda a controvérsia.
É um ator de grande talento. Mas é também um homem com um sentido de liberdade tão apurado que, por vezes, há quem confuda isso com rebeldia. Aos 31 anos, e na sua primeira entrevista após se saber que foi despedido do elenco da novela 'A Herdeira', da TVI, Pedro Barroso mostra-se tal como é. É verdade que foi despedido da novela da TVI, A Herdeira?
É verdade que foi despedido da novela da TVI, A Herdeira?
Quando é que abandona, então, a novela?
Quando é que abandona, então, a novela?
Até ao fim?Até me despedir do Roni. Mas não se preocupem, está tudo bem comigo.
Como está a correr o ‘Roni’?Desde o início que foi um desafio bastante agradável. Quando me perguntavam que tipo de papéis é que gostaria de fazer, sempre idealizei um cigano. Não deixa de ser curioso o facto de, por vezes, as coisas virem ter connosco. Desde início, quando me explicaram que iria fazer um cigano e que a novela iria abordar toda a comunidade cigana e os seus valores e tradições, quis ir mais a fundo e consegui arranjar uma família cigana para perceber melhor esta comunidade.
Foi um desafio?Sem dúvida e tem a ver com a forma como tenho vindo a trabalhar, ou melhor, como gosto de trabalhar. Um desafio que acabou por ser muito interessante. Quando os guiões começaram a surgir, percebi a necessidade de ganhar mais e melhores condimentos. Até agora tem sido super interessante.
Como foi esse convívio com uma família cigana, quando são uma comunidade que continua um tanto fechada ao exterior? Foi surpreendido pelo que encontrou ou não encontrou?Não houve nada que, na realidade, me surpreendesse. Mas o segredo é ir aberto ao que possamos encontrar.
É necessário uma grande dose de generosidade de ambas as partes…Sobretudo da parte deles. Ao longo do tempo, e isto é entrar noutros campos, houve muita ostracização e preconceito e, por isso, podem não ser receptivos, tal como nós também não somos em relação a eles. No meu caso particular posso dizer que foram muito receptivos e receberam-me muito bem de imediato. Obviamente que me colocaram imensas questões, como do que é que estava ali à procura. É evidente que isso coloca-me numa posição um tanto dúbia, já que não queria explicar tudo no início pois a minha intenção era um trabalho baseado quase exclusivamente na observação.
Qual é o objectivo dessa observação?Adoro registar expressões, por exemplo. E no caso dos ciganos, eles têm um código verbal muito próprio, tal como os códigos de conduta. E tudo isso são coisas que não se aprende num dia, nem numa simples passagem por uma feira. É preciso estar, querer estar e querer assimilar.
Esteve quanto tempo com essa família?Fui estando durante um mês. Mas continuo a falar com eles. Ainda há dias, cheguei a Viana do Castelo e avisei dois amigos ciganos, que são de Braga, e eles vieram ter comigo a Viana. Acabamos por jantar juntos e com o resto da equipa. Inclusivamente, fui convidado para um casamento cigano no próximo dia 28.
Esse estar inserido passava exactamente por quê? Partilhar as refeições, ir às feiras…?Nunca fui a uma feira com eles, pois não era essa a minha intenção por ser a situação que estamos mais habituados de ver os ciganos. O que quis foi estar mais com eles em saídas, beber umas cervejas, ensinarem-me a bater palmas, a dançar e a apanhar todas as expressões. Foi super importante para a construção da personagem. Houve uma partilha mútua: deles comigo e de mim com eles.
Vejo que está muito feliz com esta personagem. Era o isto que lhe estava a fazer falta neste momento?Acho que tudo o que não temos é o que nos faz falta. Mas estou muito contente com esta personagem e com desafio que a TVI me deu. Obviamente que isto foi um bocadinho pela mão da Maria João Mira e do José Eduardo Moniz que acharam que eu era uma boa aposta e, portanto, sinto-me muito grato. Só posso estar feliz por a TVI continuar a dar-me desafios destes e eu poder continuar a trabalhar.
A sua carreira tem sido feita de altos e alguns baixos. Ainda assim, desde que começou nos ‘Morangos com Açúcar’ tem aparecido com alguma regularidade na televisão, à excepção daquela "travessia no deserto", chamemos-lhe assim.É verdade. Talvez a razão para isso esteja no meu trabalho e, acima de tudo, gostar muito do que faço. Tenho de estar realmente muito grato pelas oportunidades que me têm dado, mas penso que a forma como eu me trabalho, o background e o que passa para quem assiste são fundamentais. Não é suficiente ter apenas talento. Hoje temos de ter plena consciência da sociedade em que estamos inseridos, ou seja, hoje é preciso vender. É imperativo irmo-nos manobrando consoante as coisas que vão surgindo. Em relação a trabalho, tenho tido óptimas oportunidades e não só a TVI. Ano passado, por exemplo, tive a oportunidade de fazer uma série da qual gostei muito, ‘Vidago Palace’, na RTP. Fui muito feliz a fazer esse trabalho e tinha muitas saudades de me trabalhar assim, de trabalhar com tão boa energia e de voltar a acreditar em valores em que já não acreditava em termos de espírito de equipa e grupo coeso. Gostei muito de trabalhar com os galegos e graças a Deus existem mais projectos em ficção, mas isso é um de cada vez.
A polémica está inevitavelmente colada ao seu nome.A polémica é incrível… cola-se a qualquer nome.
Mas não pode negar que a polémica está ainda mais colada ao seu. Por exemplo, no início de ‘A Herdeira’ surgiram notícias de que o Pedro já estava a faltar às gravações.Tudo aquilo que está exposto e vive da exposição pública, precisa de polémica. O que é um facto é que não tenho um trabalho normal, ou seja, não trabalho numa farmácia, numa papelaria ou num banco onde a responsabilidade e o compromisso é outro.
Dei o exemplo de faltar, mas o que lhe quer dizer é que não pode negar que a polémica é muito associada a si.Em vários sentidos. E em minha opinião é quem não é importante não gera polémica. Não nego que me chateia imenso mas aprendi a lidar com isso. Acabo por me afastar e talvez seja por essa razão que fujo para a costa vicentina para surfar. Desligo aos fins-de-semana e não vejo imprensa. Como ouvi dizer um dia: "Tenho vida para além disto", e a minha vida para além da televisão não pode ser consumida com polémicas.
A propósito das polémicas, o Pedro é o bom ou o mau rebelde?Eu tenho vontade de viver e não sei se isto é visto como rebeldia. Já me disseram muitas vezes que sou diferente.
E é, efectivamente, diferente?Somos todos e gosto de poder dizer que nunca encontrei ninguém igual a mim.
Não é verdade que tenta ou foge aos "rebanhos"?A palavra certa é mesmo fugir. Fujo e vivo a vida.
E essa fuga constante não pode ser considerada uma rebeldia?Além de causar estranheza nos outros e levar às tais polémicas de que falava. Agora respondendo à pergunta, sou o bom rebelde que se está nas tintas… esta não é a melhor expressão porque sinto muitas as coisas e elas magoam-me ou podem tocar-me de uma forma muito profunda. Ao longo dos tempos acabei por me aperceber que sou muito sensível e, se calhar a minha necessidade de fuga é para não ser tão permeável às coisas que não me apetecem.
Com o tempo…Aprende-se a dizer não, a dizer que não me apetece estar aqui, que não quero. É muito bom quando se atinge este ponto porque se aprende a não nos ferirmos. São opções e essas opções, realmente, podem ser entendidas como rebeldia e estranhas.
O amor é infinito enquanto dura, como dizia Vinicius de Moraes?[pausa…]Cresci a amar e os valores que me passaram foi o de aprender a amar. Quem me educou, ensinou-me a amar e o amor é muito bonito. Como é que é a frase?
O amor é infinito enquanto dura.Por momentos posso rever-me nessa frase. O amor por alguém pode ser visto dessa forma, no entanto existem outras formas de amar. Por exemplo, o amor-próprio é infinito sempre, não tem prazo de validade.
Um homem tão dado ao amor acredita que cada novo romance é para sempre?Mas isso é assim para tudo. Há sempre a esperança que seja para sempre e que as coisas dêem certo. O importante é darmos tudo.
O Pedro dá tudo de si numa relação de amor?Dou tudo de mim no trabalho. No amor, tive histórias diferentes e acho que todas foram muito importantes para perceber e explorar coisas diferentes de mim, estados diferentes da minha alma, estados diferentes de ver e olhar para as coisas e ganhar camadas. Tenho a certeza que todas essas histórias de amor que vivi vieram na altura certa.
Não se arrepende de nada e de nenhuma desses amores?Estou aqui, aos 31 anos, e estou inteiro. E isso é o melhor de tudo.
Quando amor chega ao fim, nesse mesmo momento não tem ressentimentos, arrependimentos?Mas quando acaba a fase dos ressentimentos e se olha para trás, chega-se à conclusão que foi importante ter passado e vivido tudo aquilo. Todos os amores tiveram a sua importância.
Recorda todos os amores com carinho?Tenho muito carinho por tudo o que vivi.
Já teve muitas namoradas famosas. Circunstâncias da vida ou uma simples estratégia de marketing?Costumo informar-me sobre as cotações na bolsa (risos) ou sobre quantos seguidores têm nas redes sociais. Bem agora a sério, são as circunstâncias da vida. Aconteceu…
Ama-se com a mesma intensidade com que se "desama"?[pausa…] Há pouco tempo li uma frase muito bonita do Charles Bukowski. Perguntaram-lhe o que era o amor e ele disse que era como uma neblinaque se queima com a primeira luz de realidade. Deixar de gostar vem com o tempo, desamar é algo mais radical. Amar traz dor, mas é muito bom. Eu não desamo. Eu amo ou odeio. E odeio para que seja mais rápido e depois para uma outra fase.
Houve uma publicação que este verão fez uma matéria com o título: "Pedro Barroso apanhado com nova namorada".A mim ninguém me apanhou, eu não tenho cadastro. Mas há títulos muito engraçados… Às vezes leio, outras não. Quando escrevem coisas que não correspondem à verdade não é nada agradável. Todos nós temos uma vida e todos nós temos família. Nós não somos os únicos a ser magoados.
A fama tem um reverso?A fama tem coisas boas e traz-nos oportunidades únicas. Depois, quando ponho os prós e os contras numa balança, fujo para os meus cantinhos para surfar. Isto é um jogo em que se tem de perceber quando se entra e sai e, aí, há que tomar opções.
"Gosto de reticências" é uma frase sua.Gosto muito. Gosto de histórias não acabadas, de frases no ar, conversas que não terminam, de voltar aos sítios onde já fui feliz. Gosto de ir e isso envolve reticências. E gosto tanto delas que até tenho umas tatuadas.
Fez parte de um projecto que dava pelo nome "Tudo vai melhorar". Acredita mesmo nisto?Dei por mim nos últimos tempos a ver alguns vídeos motivacionais e há uns que nos tocam em pontos fulcrais. Se acreditamos nessa métrica de que "tudo vai melhorar", isso acaba por nos balizar o resto das nossas acções. Tem muito a ver com a nossa energia e predisposição.
E tem sido assim ao longo da sua vida?Um dia de cada vez.
Para acabar: "Há uma continuidade da pessoa que parte em nós. Ninguém acaba". Uma declaração sua em 2012. Volvidos cinco anos e depois de uma perda, continua a ter a mesma ideia?Continuo a dizer que enquanto estiver na nossa memória e nos recordarmos da pessoa, ela não acaba. Somos nós, que ficamos, que temos o poder de a manter viva.
Que sentimento é que esse poder lhe traz?O conforto.
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