Médico que foi um dos heróis da pandemia deixa testemunho lancinante: "Só queria que me deixassem morrer. É cruel, e a maldade humana dos meus, asfixia-me"
Gustavo Carona sofre de uma doença crónica que lhe provoca dores permanentes e insuportáveis. Um calvário! Diz-se só e incompreendido e, neste seu último desabafo, queixa-se das "maldades" da sua própria família. Teme-se o pior.O nome diz muito aos portugueses. Numa altura particularmente sensível, em que vivíamos confinados, com medo do desconhecido e a consumir avidamente informações sobre a Covid-19, Gustavo Carona tornou-se num dos rostos mais visíveis da luta contra a doença. Médico na linha da frente, ajudou a salvar dezenas de vidas, a compreender melhor o inimigo contra o qual se lutava e foi precisamente quando a pandemia começava a abrandar que o seu corpo cedeu.
Hoje, o médico intensivista vive preso a uma cama com dores 24 horas por dia. Sem descanso. Sem alívio. Sem uma luz ao fundo do túnel. Gustavo Carona sofre de uma doença grave, crónica, incurável, que lhe provoca dor neuropática permanente, o que quer dizer que, na maior parte do tempo, vive confinado ao seu quarto e a uma cama.
E é da sua cama que o médico, que se diz "no limite", lança um desabado arrepiante e que faz temer o pior: "A sofrer, a sofrer, a sofrer de dores permanentes 24 horas por dia sem feriados, fim de semana ou férias. Todos os dias a sofrer", assume Gustavo nas redes sociais. E continua: "A minha vontade de não ser egoísta está a esvair-se. A minha tolerância perante as maldades que me dizem/fazem empurra-me para um risco de suicídio."
E realça: "É como viver com uma lâmina muito afiada encostada à garganta em que até o deglutir pode ser fatal." Prossegue o médico: "Cada vez mais só, cada vez mais triste, cada vez mais no fundo do poço, cada vez respiro mais em esforço", revela. Gustavo Carona escreve ainda: "Só queria que me deixassem morrer, porque já não aguento mais tanto sofrimento acumulado, tanta solidão e tanta incompreensão."
"Já me culpam de estar doente, já me culpam pelo que não consigo fazer por estar doente num limite de exaustão, numa luta puramente pela sobrevivência... e ainda me atiram pedras a um moribundo. É cruel, e a maldade humana dos meus, asfixia-me. Não aguento mais sofrer. Tive 40 anos de sonho, de luta pelo que acredito, de trabalho, de paixão... vivi inspirado e, agora não quero viver para sofrer... Será pedir muito? Viver para sofrer não é viver", termina.
Contudo na caixa de comentários o médico ainda faz questão de deixar uma explicação mais detalhada e acusando os mais próximos: "A maldade de que falo na forma dita e falada vem da minha família e amigos... o que vem de desconhecidos na internet pouco ou nada me atinge...", explica Gustavo Carona.