Não foi só fama e sucesso! Como Simone de Oliveira se tornou um exemplo ao permitir que acompanhássemos a "sua vida, as suas tristezas e até as suas doenças"
Simone de Oliveira é, aos 87 anos, um nome incontornável deste país e do panorama artístico nacional.Simone de Oliveira surpreendeu tudo e todos ao aceitar o desafio recente de ser capa de uma das mais prestigiadas revistas de moda, a 'Vogue'. Talvez até não surpreendesse assim tanto. Todos lhe conhecemos a garra, a vontade e, sobretudo, a liberdade de se mostrar como é... sem qualquer tipo de filtro. É um exemplo!
E é isso que diz Luís Osório no seu habitual 'Postal do Dia'. "Simone de Oliveira gosta de dizer que apenas canta cantigas. Gosta de dizer que é uma mulher como as outras, com os mesmos combates, com as mesmas inquietações sobre filhos, sobre amores, sobre o envelhecimento, sobre o esquecimento, sobre o medo de não estar à altura. Já escrevi tanto sobre ela", começa por dizer o escritor sobre uma das mais respeitadas artistas portuguesas.
"Mas Simone encarrega-se sempre de me dizer que não chegou ao fim do seu caminho…", continua Osório, acrescentando: "… que ainda tem mais uma surpresa e mais outra e outra e outra. Quando sem anúncio, e com uma dignidade admirável, saiu da sua casa de bonecas para ter o seu quarto na maravilhosa Casa do Artista, eu comovi-me. E escrevi. Quando decidiu deixar de cantar num último espetáculo, fazendo-o como mais ninguém e levando o público a conhecer uma espécie de absoluto, eu fiquei de boca aberta. E escrevi. Quando perdeu a voz e regressou com uma outra voz ainda mais vivida, ainda mais especial, eu abri a boca de espanto. E escrevi. Quando resistiu à doença, ao cancro, à dificuldade de sobreviver sozinha com quimioterapias, radioterapias, fê-lo sem nunca perder o contacto com a vida, com os outros, com os que todos os dias a amparavam quando a viam trôpega a caminho do hospital."
Luís Osório declara-se: "Gosto de si, Dona Simone. Estou consigo, Simone. Não nos deixe, Simone de Oliveira. O país acompanhou-a sempre. Na doença, na vida, na tristeza, no combate que fez por ser útil na guerra contra a violência doméstica e pela força de ser mulher num mundo injusto para tantas e tantas mulheres. Deu o exemplo."
E termina este 'Postal do Dia' dedicado a Simone de Oliveira: "Falou do seu primeiro divórcio com menos de vinte anos, de um marido que não queria que cantasse, de um marido que lhe levantou a mão como era normal naquele outro tempo. Só que a Simone nasceu sem idade. Fez de todas as épocas que viveu a sua época. E agora surpreendeu-me outra vez. Aos 87 anos, na capa da Vogue. Tu que me estás a ouvir agora, ou a ler… sim, é a ti que pergunto nesta nossa amizade improvável… viste as fotografias de Simone? Viste-a deslumbrante, intemporal? Viste a força de cada uma das suas rugas? A grandiosidade define-se de muitas maneiras. Também se define por este nome. Simone de Oliveira."