
A forma como Guedes de Carvalho interrompeu Leal Coelho, por duas vezes, durante a discussão entre os principais candidatos à autarquia lisboeta, é um dos momentos de maior agressividade simbólica na História dos debates televisivos em Portugal.
A conversa ia morna. Subitamente, com ar ríspido e um pouco rude, Rodrigo corta a palavra à militante do PSD. Obriga-a a calar-se, para "virar a agulha do debate".
A desproporção de tratamento a um dos intervenientes terá um efeito eleitoral nulo, até pelas fracas audiências. Contudo, a falta de razoabilidade demonstrada nesses dois momentos marcou o tom da emissão, e ficará associada ao jornalista.
Consequentemente, também à informação da casa, porque Rodrigo é, já, a principal imagem do canal, com um carisma e impacto públicos que se sobrepõem às estrelas do entretenimento.
Tal preponderância de um profissional sobre uma estação tem, necessariamente, consequências. Um apurado, e muito particular, sentido ético é a principal característica de Rodrigo. Constitui a sua maior virtude como jornalista, mas também a sua maior fragilidade como decisor.
À necessidade de reflexão sucede o medo de falhar, que dificulta a avaliação das situações, e, por vezes, o inibe de actuar com agilidade. Essa sua "forma muito ponderada de reagir" transformou-se no próprio ADN da SIC. Para o bem e para o mal. Do que conheço do jornalista, ele terá sido o primeiro a arrepender-se, e ter-se-á, talvez, apressado a pedir desculpa à candidata. Rodrigo é assim. Tem a enorme qualidade de perceber quando erra, e consegue reconhecê-lo. Serenamente.