
As mulheres são um inferno inocente,
dizia-lhe ele com a cabeça pousada no ombro dela, o cigarro aceso pousado na mesa, esquecido enquanto o fogo ardia nos lençóis,
A alegria é feita do que não podemos provar,
respondeu ela, e passou a língua pela boa dele, lentamente, como se não quisesse provar o que estava a provar,
Todo o fogo é juvenil,
escreveu ele, horas mais tarde, num papel que lhe deixou debaixo da almofada, com o seu número de telemóvel, para que quando acordasse se sentisse outra vez dele,
Vistos de longe todos nos amamos,
ela falava com uma amiga no café e criticava aquele homem com quem passara umas horas e que nunca mais dissera nada, nem uma palavra, nem uma mensagem, nada,
O amor às vezes tem de se subir pelos degraus,
era o que ele pensava enquanto se encaminhava para a casa dela para tentar perceber porque é que ela não lhe disse nada, tanto tempo já tinha passado e nada, sabia que provavelmente não valia a pena ir lá, pois se ela nada dissera é porque nada quereria com ele, mas não custava tentar, não custava ouvir mais um não, ele que passara a vida toda a ouvi-los, um atrás do outro,
Quando quero explicar o meu futuro a tua imagem aparece-me nas palavras,
começou por explicar, não sabia bem o que aquilo queria dizer mas era exactamente aquilo que queria dizer,
Quero que sejas os aposentos da minha loucura,
ela entendeu, abraçou-o, passaram algumas horas a entender que às vezes os corpos são necessários para que as almas se conheçam,
Os corpos nas luzes suspensas são como uma cidade em chamas,
foi o título do livro dele, lançado um ano depois, mais coisa menos coisa, com o silêncio dela (e a saída curta dela, sobretudo) na primeira fila,
Entre mortos e feridos salvam-se os que amam,
e naquele dia não houve mortos nem feridos, mas houve os que se amam,
e que se salvaram, claro.
Tangível: adj. Tudo o que sentes, e não apenas tudo o que tocas; é mais real um sonho do que muitos beijos.