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Pedro Chagas Freitas
Pedro Chagas Freitas COMO F***DER UM CASAMENTO Manual Prático para Mul

Notícia

Pedro Chagas Freitas: Jejum

Jejum: s.m. Carência do mais primário que temos na vida; à privação do que nos faz sobreviver chama-se fome; à privação do que nos viver chama-se solidão.
10 de abril de 2017 às 07:00

(a vida são tópicos)

  •          Nasceu algumas semanas antes do tempo, algo que, naquela altura, era quase sempre sinónimo de morte.
  •          Lutou para resistir – e resistiu, claro.
  •          O pai abandonou-a, e à mãe, por não ser um rapaz.
  •          Perdeu uma irmã mais velha um ano para uma doença contagiosa de então, depois de meses de luta e de tentativa de sobrevivência em vão.
  •          Começou a trabalhar aos dez anos para ajudar a mãe, numa empresa de calçado, das seis da manhã às oito da noite.
  •          Conheceu o homem da sua vida, mais velho duas décadas e com quase um metro e noventa de altura e de elegância, quando tinha dezasseis anos – e ficou fascinada, envolvida, irreversivelmente presa a ele.
  •          Casaram-se sem qualquer pompa e sem nenhuma circunstância – mas com tudo o que interessava para seguirem juntos.
  •          Tiveram quatro filhas perfeitamente saudáveis e pelo menos dois abortos não provocados – algo também ainda natural por aqueles dias.
  •          Ele foi, sem nunca se perceber muito bem porquê, acusado de um crime de atropelamento.
  •          Esteve preso alguns dias, mas saiu livre e inocente, respeitado por toda a gente.
  •          Teve um acidente mortal de moto e deixou-a viúva e com quatro filhas crianças aos vinte e um anos.
  •          Trabalhou num café de bairro de sol a sol.
  •           Conheceu o segundo homem da sua vida, este menos alto mas também envolvente, aos vinte e cinco anos.
  •          Casaram pouco tempo depois, numa cerimónia à qual as quatro meninas do outro casamento assistiram.
  •          Tiveram, depois, sete filhos juntos.
  •          Nunca deixou de trabalhar e teve mil e um empregos.
  •          Um dos filhos morreu de acidente de automóvel quando tinha vinte anos – e quando ela tinha pouco mais de sessenta anos.
  •          Tirou a carta de condução apenas para mostrar a si mesma que era capaz – mas nunca conduziu.
  •          Foi operada sete vezes aos mais diversos problemas e doenças, e delas saiu sempre capaz de prosseguir com aquilo que queria fazer.
  •          Para além do seu emprego normal vendia os mais variados produtos de porta em porta, em busca de um rendimento-extra.
  •          A última vez que foi operada já tinha mais de setenta anos.
  •          Pouco tempo depois perdeu o segundo homem da sua vida, depois de ter padecido mais de dois anos com a doença e a incapacidade dele.
  •          Já com mais de oitenta anos, caiu de uma cadeira alta enquanto tentava colocar uma lâmpada de tecto.
  •          Recuperou mais uma vez e manteve-se lúcida e autónoma, senhora do seu nariz.
  •          Penteava-se todos os dias com a sua escova preferida e adorava ver-se ao espelho, sempre vistosa – e foi assim, de cabelo penteado e vistosa que morreu, em casa, sozinha e independente como sempre.
  •          Foi uma das pessoas mais felizes que conheci.

 

 

Jejum: s.m. Desprovimento do básico; à escassez voluntária ou involuntária de comida chama-se fome; à escassez voluntária de amor chama-se burrice. 

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