
Gosto da maneira como me mudas a vida.
Antes de ti era um homem apaixonado; agora sou um homem avassalado, consumido, colonizado. Prendo-me a ti e sou livre, será que me entendes?
A grande liberdade é a de quem está preso a um amor que não passa.
Se é amor não passa, verdade seja dita.
Não és sequer uma pessoa como as outras: ama-se sempre quem não é como os outros. É essa, aliás, uma boa maneira de definir o amor: olhar para alguém e vê-lo como uma pessoa diferente de todas as outras.
Todos os amores são iguais na capacidade de nos tornarem diferentes a cada instante que o vivemos.
— Quando me abraças a dor espalha-se, primeiro, e depois dilui-se.
— O amor espalha a dor e depois apaga-a.
— E ainda assim dói. Amar dói.
— E depois deixa de doer.
— Ama-se para apagar a dor que amar provoca.
— Quem nunca amou nunca sofreu.
— Por mais que acredite que sim.
— E quem nunca amou nunca se salvou do que dói.
— Vai doendo.
— Isso: quem nunca amou vai doendo.
— E nunca se salva da dor e nunca sente a dor. É uma quase-dor-quase-salvação-da-dor.
— Um limbo em que não falta nada.
— E em que falta tudo.
— Faltando-nos o amor falta-nos tudo, não é?
— Pode faltar-nos tudo que basta termos o amor para termos tudo.
Nós temos. Quando te olho continuo a não conseguir ver-te. Vejo uma espécie de ti. Vejo-me em ti.
Amar é vermo-nos quando vemos o outro. Amar é perceber que somos com o outro, e nunca além ou aquém do outro.
— Ama-me para me tornares imortal.
E eu amo.
E assim vivo.
Quotidiano: s.m.: Momento que, apesar de repetitivo, nunca se repete. Amar é construir uma rotina que é diferente todos os dias sem deixar de se repetir todos os dias.