
Almoço numa esplanada à beira rio. A minha frente, numa outra mesa, estão dois casais. Já comiam quando me sentei. Não havia mais ninguém por perto e um silêncio intrigante pousará naquele local, apenas cortado pela sirene de um navio que chegava a Lisboa. Foi então que reparei no grupo. Enquanto comiam (todos com a mão esquerda) debruçavam-se sobre os telemóveis que estavam ao lado dos pratos da refeição.
A comida seguramente arrefecia enquanto os dedos da mão direita ferviam sobre os teclados. Um dos homens mais enervado falava com a máquina enquanto escrevia mensagens e, uma outra, divertia-se folheando sem cessar as páginas do Facebook. Fiquei preso naquele silêncio alucinado. Um ou outro monossílabo trocado entre dois, varias exclamações em confronto com aqueles com que trocavam mensagens. Uma delas desajeitadamente entornou o sumo que pedirá sobre o vestido devido a atenção centrada na rede social e os garfos, sem orientação, pescavam os alimentos s m convicção.
Aquelas quatro criaturas viviam a ilusão de que almoçavam juntas enquanto mergulhavam no mundo das imagens que lhes criava a ilusão de estar juntos a uma multidão. A realidade nada valia para além da aparência de um mundo fantástico onde navegavam sem sentido. Estavam presentes mas ausentes, enfiados até ao fim dos sentidos no ecrã dos seus telemóveis. Pagaram.
Trocaram algumas palavras de cumprimento e cada um seguiu o seu destino, cabisbaixos, trôpegos, enfiados nos ecrãs dos seus pequenos computadores. Terminei o meu botoque deveras perturbado. Almoçara junto a um grupo (talvez geração) onde as palavras e os afectos não faziam parte do convívio. Por certo não haverá solidão maior. Porque esta mascarada de multidões virtuais. É neste caldo que se cozinha a alienação que mata solidariedades e cria vazios. E o mundo torna-se mais perigoso.