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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

A Matemática

No rescaldo da imensa tragédia que varreu a serra da Estrela, perante o espanto geral com a violência do fogo, a Secretária de Estado Patrícia Gaspar recorreu à matemática para dizer que o desastre não foi assim tão grande. Afinal, segundo o algoritmo com que trabalhava, a imensidão do fogo, um dos maiores da história dos incêndios em Portugal, deveria ter sido mais devastador.
28 de agosto de 2022 às 06:00
Incêndios
Incêndios Foto: CMTV

Quando a pandemia começou a produzir os primeiros estragos no País, ainda com poucos mortos embora já com muitos infetados, um conhecido matemático, utilizando cálculos da sua especialidade, garantiu em jornais em televisões que, a continuar o contágio àquela velocidade, brevemente o País teria 12 milhões de infetados. Julgo ter sido a Fátima Campos Ferreira que, perturbada pelos números, colocou a questão: "Como vamos ter 12 milhões de infetados, se o País só tem dez milhões de habitantes?"

A resposta foi titubeante, refugiada nos cálculos matemáticos. Era uma projeção algorítmica, abstrata, que se transformou numa profecia sem sentido, mas cujo efeito imediato foi atemorizar quem escutava o sábio.

Desta vez, foi a Secretária de Estado Patrícia Gaspar. No rescaldo da imensa tragédia que varreu a serra da Estrela, perante o espanto geral com a violência do fogo, também recorreu à matemática para dizer que o desastre não foi assim tão grande. Afinal, segundo o algoritmo com que trabalhava, a imensidão do fogo, um dos maiores da história dos incêndios em Portugal, deveria ter sido mais devastador. Segundo os cálculos, só ardeu 70 por cento daquilo que se esperava.

Esta necessidade de torturar os números até que deles surja alguma coisa de positivo, diz bem daquilo que é a impossibilidade de assumir responsabilidades perante este desastre nacional. Em percentagem de território, somos o País com maior área ardida neste Verão. O País, ao qual se prometeu há cinco anos, quando foi da última tragédia incendiária, que após os estudos encomendados para evitar novos desastres, estava em curso a maior reforma florestal de sempre. Viemos a saber pelos especialistas, então contratados, que não houve qualquer reforma e, agora, desta vez, depois do relatório que está a ser feito, é que vai ser de vez.

Não tenho dúvidas de que, no dia em que nova tragédia se abater sobre o território, haverá um algoritmo que dirá: afinal, isto não foi tão mau como se esperava e a eternamente adiada reforma do território e do parque florestal continuará por fazer.         

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