
As democracias não têm armas para se opor a um déspota. São, por natureza, mudança, alternância, onde a unanimidade, e muito menos a unicidade, é algo inatingível. Ao contrário das ditaduras, onde o poder pessoal de um homem dispõe da vontade, da capacidade de a manter, conforme os seus objetivos de curto e de médio prazo. Dito de outra forma, a guerra não é da natureza das democracias. Sobretudo porque dependem dos votos e, quando se trata de votos, mais do que valores comuns, ideais sublimes, as sondagens são quem mais ordena. Na ditadura, como é o caso de Putin, nem sondagens, nem votos lhe alquebram a vontade, nem que para tanto, tenha de mandar assassinar os seus opositores políticos. Se para um regime democrático a verdade política é primordial, sempre escrutinada pelos cidadãos e pela imprensa livre, para uma ditadura, como é a de Putin, a verdade é aquela que ele proclamar mesmo que não seja suportada em factos. A mentira coexiste com a verdade num amigável encontro de cumplicidades. Basta suprimir a imprensa independente e alimentar a oficial com a verdade que a ditadura quer que se saiba.
Estas circunstâncias não querem saber de piedade, nem de compaixão. São indiferentes à morte e ao sofrimento. A ditadura de Putin ambiciona por mais poder e tudo fará para conquistá-lo. Invadindo países, matando a eito, destruindo cidades, estoirando com qualquer ponto de negociação, embora repita sempre que a paz e a negociação é o seu principal objetivo político.
As ditaduras só vergam de duas maneiras. Ou pela força ou porque o poder do ditador sob a sua corte se fragiliza ou dissolve.
Não é o caso que vivemos tão apaixonadamente. Putin está tranquilo, não se sente ameaçado e, pelo contrário, dispara ameaças, como a possibilidade de uma guerra nuclear, sem que as democracias tenham qualquer argumento para o dissuadir. De certa forma, não é só a Ucrânia que está nas mãos de Putin. Somos todos nós porque a nossa capacidade de reação comum, nos territórios democráticos, é débil e não tem a coerência e coesão necessária. Ficar-nos-emos sempre pela solidariedade com aqueles que sofrem. É reconfortante mas pouco dirá a Putin.
Já estamos em guerra e ainda não sabemos. Só vai terminar se a força da razão se sobrepuser à razão da força. Ou ficarmos todos submetidos ao medo. l