
Não é possível compreender as flutuações da violência, da atividade criminosa sem estudar com profundidade os movimentos sociais e políticos, o contexto económico e financeiro que estão na estrutura dos comportamentos sociais. Agora, na situação de pandemia, a saúde mental ocupa um lugar de relevo nesta análise.
As recentes eleições autárquicas possuem indicadores que não são despiciendos para esta discussão. Não tanto para saber que partido ganhou ou perdeu, sendo que as alterações políticas das estruturas locais devem ser levadas em linha de conta. Como é o caso de Lisboa e do Porto, as duas cidades que congregam grandes zonas metropolitanas. Interessa, sobretudo, perceber um outro fenómeno bem mais complexo que degrada a democracia e, simultaneamente, reduz o indicador sobre o que pensam os nossos cidadãos. Trata-se do flagelo da abstenção.
Nestas eleições locais, onde estão em causa questões imediatas, de proximidade, de problemas para resolver dentro da comunidade, em cada dois eleitores, um não votou. Isto é, metade do país desinteressou-se, não quis saber, afastou-se de qualquer decisão sobre o futuro da sua freguesia e do seu concelho.
Uma espécie de auto marginalização massiva. Metade da população exclui-se do movimento que procura a democracia para resolver a ordem do Estado.
É cedo para retirar conclusões pois esta autoexclusão tem raízes complexas, e vem de longe, para nos satisfazermos com uma hora de debate, antes de saber resultados finais, sobre aquilo que motiva o abstencionismo. Sobretudo o crescimento insistente deste fenómeno.
Não é estigmatizando quem não vota que se resolve. Não é com meia dúzia de lugares comuns onde se lamenta a abstenção quer os dirigentes políticos podem sacudir a água do capote. Hoje, é o maior partido português. É um sintoma terrível de uma democracia fragilizada. Torna-se urgente perceber este imenso partido marginal para a saúde da vida pública.