
Depois de vencer o festival da Eurovisão, em maio de 2017, Salvador Sobral foi definhando lentamente em termos de fama e mediatismo. Dono de um feito irrepetível e que a todos os portugueses orgulhou, o cantor optou por abraçar uma estratégia ignóbil para continuar a ver o seu nome nas manchetes de jornais e revistas.
Confesso que eu próprio, até certa altura, me deixei enganar pelo estilo irreverente e alternativo de Salvador Sobral. Embora tocado pela truculência de algumas declarações e comportamentos, desde que foi homenageado por Marcelo Rebelo de Sousa, acabei sempre por desvalorizar os devaneios de Salvador.
Mas a complacência terminou na última semana depois das entrevistas que concedeu em Espanha a vários órgãos de comunicação social. Se a estirada em relação a Cristiano Ronaldo (sobre o pagamento de impostos), depois de ter sido comparado ao melhor jogador do mundo já roçou a falta de vergonha, aquilo que me deixou atónito foi a afirmação ao jornal ABC: "Hoje em dia não penso fazer nenhuma promoção para animar as pessoas que doam órgãos. Agora quero viver a minha vida e não quero estar associado a isso".
Garanto que me esforcei para tentar descortinar nesta afirmação algum sentido, mas não consegui. É indescritível a falta de memória; a ausência de solidariedade nas palavras de Salvador Sobral, alguém que agonizou devido a uma insuficiência cardíaca. Em dezembro de 2017, o homem que fez história na Eurovisão, salvou a vida graças a um transplante de coração.
O cantor português fez transbordar o copo e nem os espanhóis o perdoam, tão cerrados têm sido os ataques nos últimos dias. Não tenho esperança em testemunhar a redenção de Salvador Sobral. Ele segue acelerado garantindo que a cocaína o ajuda muito a conseguir pisar os palcos e fazer cumprir o desejo de quem acompanha a sua carreira. Normalmente não desisto das pessoas, mas considero que o "rei" português da Eurovisão já não tem salvação.