
O documentário da Netflix sobre o desaparecimento de Maddie, a pequena inglesa que levou sumiço no Algarve, fez regressar as notícias sobre o caso e, com elas, ressurgem velhas e novas teorias, sobre o destino da pequena infeliz. Na verdade, como dizia um velho professor, quem não sabe, teoriza. Nada melhor para passar meia hora de conversa mole sem soluções nem respostas.
É verdade. Quem não sabe, teoriza. E passados quinze anos e doze milhões de libras, continua sem se saber do paradeiro da pobre criatura. Mas há coisas que sabemos. Que a polícia inglesa fez a maior campanha de sempre na procura de uma criança britânica e não fez o mesmo em centenas de casos, que tem a seu cargo, e que anualmente acontecem em Inglaterra. Porquê tanto investimento numa só criança? Pois, não se sabe. E quem não sabe, teoriza.
É extraordinário que, passados tantos anos, aquilo que a polícia inglesa fez, e repetiu até à exaustão, foi explorar as mesmíssimas hipóteses que a polícia portuguesa explorou. Não trouxe nada de novo, não tem qualquer pista de rapto, não se anuncia a possibilidade de um suspeito sólido. Tudo indica que só existe uma verdade absoluta para esta investigação milionária: os pais e os amigos dos pais que, naquela noite, abandonaram as crianças à sua sorte são claramente protegidos pelas investigações policiais. Porquê esta cumplicidade tão promíscua, quando a polícia inglesa sabe, como todas as polícias do mundo, que é exactamente no círculo próximo da criança que se encontra a chave do problema? Pois é, não se sabe. E quem não sabe, teoriza.
Basta ler o processo. Os oito protagonistas desta história mentiram sobre aquilo que fizeram naquela noite. As declarações de vários deles são contraditórias. Saber quem está a mentir, resolve-se com uma reconstituição da noite do crime. Coisa que não custará mais do que vinte mil libras, incluindo as viagens. A polícia inglesa sempre recusou esta diligência. Porquê? Não sei. E quem não sabe, teoriza. É o caso da Netflix.