
Todos os anos, por esta altura, o governo divulga o Relatório de Segurança Interna. Todos os anos se repete a farsa. A criminalidade baixou. Baixa sempre. Acompanho este Relatório há quarenta anos. Baixa três ou quatro por cento por ano. Isto é, não existe crime em Portugal porque baixou tanto que podem ser despedidos todos os polícias porque esta é a sociedade da paz, da concórdia, onde não existem bandidos.
É preciso que se diga que estes saldos estatísticos deveriam merecer outra atenção de quem os publica e os trata para não vendermos gato por lebre. Medir quantidades de crimes participados não permite decidir que o crime está a baixar. Apenas permite dizer que as autoridades conhecem menos práticas criminais. Porque se desconhecem as cifras negras dos crimes não participados. Porque não se conhecem os motivos para existirem essas cifras negras.
Pode ser por razões saudáveis. Pode ser por motivos perversos. Dou um exemplo: em comunidades em que desapareceram postos da GNR ou da PSP pode haver menos criminalidade participada. Por outro lado, apresentam-se números absolutos sem trazer ao lado quantos crimes desses foram resolvidos, quantos foram julgados, quantos obrigaram a medidas de prisão, quanto foram definitivamente transformados em sentenças de tribunal.
Dizer levianamente que a criminalidade baixou, não é mais do que um embuste. Uma mentira com protocolo e confiança numa verdade absoluta que não existe. É o problema da propaganda política. Faz crer que a aparência é a realidade, quando esta está bem escondida por detrás das aparências.
Confesso que não sei se a criminalidade desceu. O Relatório não nos fala sobre o acontecimento em si mesmo. Diz números e aborda subconjuntos. Diz pouco como sempre. É um panfleto, não é um estudo. Dá para umas discursatas. Só isso. Sobre criminalidade, segurança e polícia não tem nada para ensinar.