João Rendeiro cumpriu o prometido e não voltou vivo a Portugal. As ameaças na prisão, o enforcamento e como antecipou a morte
João Rendeiro tinha dito, numa das suas últimas declarações públicas que a sua história de fuga era de limites: "lutar ou morrer". As autoridades sul-africanas vão agora ter de explicar se foi o coração que o traiu, se se suicidou ou foi morto na prisão. Foi encontrado enforcado numa cela com mais de 50 prisioneiros.
João Rendeiro, 69 anos, tinha dito, durante a fuga que jamais se entregaria às autoridades judiciais portuguesas para cumprir pena de prisão. Disse, e cumpriu. Acabou, esta madrugada, enforcado numa cela da prisão de alta segurança de Westville, em Durban, na África do Sul. E cumpriu o que tinha garantido: preferia "lutar ou morrer", mas nunca se entregar às autoridades portuguesas.
Rendeiro construiu um império que desmoronou em 2008, com a crise bancária do 'sub-prime', que abalou a banca mundial e levou à falência de várias instituições e a uma grave crise económica que abalou as economias ocidentais. O Banco Português de Investimento (BPP), que tinha criado em meados de 1990 não foi exceção. O ex-banqueiro levou a instituição à falência e deixou um rasto de lesados, muitos deles milionários da nossa praça que lhe confiaram investimentos, e mais de 450 milhões de euros desaparecidos.
Vivia, ao lado da mulher, Maria de Jesus Rendeiro, numa mansão com 14 assoalhadas na Quinta Patiño, um dos mais luxuosos e exclusivos condomínios de Cascais, mas não deixa descendência. Por opção, alegadamente para não atrapalhar a ascenção social, o casal tinha optado não ter filhos e por isso se dedicava às suas três cadelas.
Quando, em setembro de 2021, João Rendeiro foge à justiça e deixa a mulher para trás, desencadeia-se um processo de investigação que leva à acusação e também à prisão da agora viúva, que seria cúmplice do ex-banqueiro. Maria de Jesus fica em prisão domicilária, os bens do casal e a valiosa coleção de arte que a esposa tinha à sua guarda, são-lhe retirados e somam-se acusações em tribunal.
UM FIM TRÁGICO EM TODOS OS SENTIDOS
O ex-banqueiro João Rendeiro, que estava preso preventivamente num estabelecimento prisional na cidade de Durban, na África do Sul, morreu esta sexta-feira. O cadáver do ex-líder do BPP foi encontrado morto esta manhã na cela sobrelotada da cadeia - mais de 50 detidos no mesmo espaço -, com poucas condições sanitárias, que partilhava com reclusos perigosos.
João Rendeiro estava detido há cerca de seis meses, em prisão preventiva, a aguardar decisão sobre o processo de extradição para Portugal, após uma fuga à justiça que durou cerca de três meses. Os juízes iriam retomar o processo na próxima sexta-feira, dia 20, depois de vários atrasos processuais devido a burocracias.
A mesma publicação adiante que já foi aberta uma investigação das autoridades sul-africanas à morte de João Rendeiro na cadeia, que tinha alegado em tribunal problemas de saúde, nomeadamente cardíacos para ser libertado.
Recorde-se que na primeira entrevista que concedeu a Júlio Magalhães, após a fuga para a África do Sul, ainda antes da detenção, João Rendeiro garantiu que preferia matar-se a voltar a Portugal. As autoridades policiais sul-africanas já abriram processo de investigação.