E a apoteose foi o minuto de silêncio em memória do bombeiro morto no atentado contra Trump, com o fato e o capacete no palco, beijados em direto pelo candidato. Na América, tudo é um espetáculo. Porque razão a política não o seria também?
Este ano, atendendo ao desempenho registado até ao momento pelos recentes congressos partidários, há sinais de um maior desinteresse pela matérias eleitorais que o habitual. Será isso resultado da prolongada crise, que já satura de tão longa que vai?
Se Pedro Nuno Santos vai todas as semanas à SIC Notícias responder à mesma pergunta, mesmo feita de formas muito diversas, sobre se é ou não candidato à liderança do PS, o espectador não vai engolir isso durante muito tempo.
A RTP1 atingiu domingo passado a pior audiência de todo o ano. Na média diária, o canal 1 obteve apenas 7,6% de share. Apenas 1,8% da população acompanhou o primeiro canal ao longo de um dia tradicionalmente dedicado ao convívio familiar, com refeições em casa muitas vezes marcadas pela televisão ligada, ao fundo da sala, e com tardes e serões que proporcionam o aumento do consumo de sofá.
A Grande Entrevista a Ana Luísa Amaral, um dia depois de morrer, é um hino à poesia, à língua portuguesa e também à televisão, que se reconciliou por uma escassa hora com o tempo pausado da literatura.
Júlio Magalhães deveria ter impedido ou enquadrado as emissões – caso não pudesse, teria de sair, até porque as emissões em julgamento prolongaram-se por várias semanas. Esta via de defesa é, por isso mesmo, insustentável para Juca.
A hierarquia entre os canais pouco ou nada mudou em relação ao ano anterior. A SIC liderou do princípio ao fim, umas vezes mais apertada, outras mais à vontade. A generalidade das apostas da TVI não surtiu efeito, e mesmo as que revelaram bom desempenho acabaram por soçobrar devido a erros táticos. A RTP, pelo seu lado, teve em 2021 nova administração, liderada por um antigo jornalista, Nicolau Santos, mas que, até ao momento, não conseguiu inverter o rumo da empresa.
A ideia inicial seria aumentar a independência da RTP através da criação de um organismo recheado de personalidades de reputada valia científica, detonadores de processos de decisão isentos e acima de qualquer suspeita de interferência governamental. Mas de boas intenções está o inferno da RTP cheio.
A boa televisão é aquela que cria uma verosímil ilusão de realidade, que faz a elipse temporal e anula os momentos mortos, colocando no seu lugar tanta luz, cor e animação quanto possível. O programa Cristina ComVida sofre de uma espécie de síndroma infantil equivalente ao medo do escuro. O resultado é que, durante aquela hora, nada de interessante acontece.