Este ano, assinalou-se o 47.º aniversário da Constituição espanhola, redigida após a morte de Francisco Franco e durante o período da Transição Espanhola para a democracia. E, no artigo 57 lê-se explicitamente: "A Coroa de Espanha é hereditária (...) com preferência para os homens sobre as mulheres".
Esta é uma regra implementada em 1713 pelo rei Felipe V, mas, uma vez que a Constituição foi redigida, essa parte podia ter sido alterada se o então rei Juan Carlos assim o desejasse. Mas... não foi.
E, de acordo com Pilar Eyre, especialista em assuntos da família real espanhola, esta foi mesmo uma questão importante para Juan Carlos.
"A minha filha mais velha não está apta para reinar", terá dito o agora emérito a Adolfo Suárez, então primeiro-ministro, que ainda terá tentado protestar: "Mas isso vai contra os tempos".
"São disparates! Elena não pode reinar e ponto final! Não preciso de dar mais explicações!", terá respondido Juan Carlos, irritado.
Na altura, a infanta Elena - a mais velha dos três filhos de Juan Carlos e Sofia - era adolescente e era considerada "o patinho feio", além de "desajeitada e má aluna", segundo Eyre.
"Porque é que não a vestes de outra forma? Nunca vamos conseguir casá-la!", terá até dito Juan Carlos a Sofia, tal era a imagem negativa que tinha da filha.
Mas Elena acabou mesmo por casar com Jaime de Marichalar, aos 32 anos. A cerimónia ficou marcada por dois momentos constrangedores, como quando a noiva tropeçou no véu e cambaleou, ou quando o seu pai praguejava porque tinha um braço partido e cada movimento brusco da infanta causava-lhe dores. O casal viria a separar-se 12 anos depois, para desgosto de Juan Carlos.
"Uma mulher separada em Espanha torna-se socialmente inútil", terá dito o rei a um amigo, e quando este perguntou o que deviam fazer se não se davam bem, Juan Carlos respondeu: "Bem, aguentem e sofram, como todos nós sofremos".
O divórcio foi oficializado em 2010, mas uma vez que o ex-casal não pediu a anulação do casamento pela Igreja, aos olhos de Deus Elena continua casada com Jaime, o que, dada a sua devoção católica, a impede de ter um relacionamento com outro homem.
Recorde-se que Espanha é atualmente das poucas monarquias que ainda prioritizam os herdeiros masculinos na ascensão ao trono. Na Europa, apenas o Mónaco segue a mesma regra: Alberto II também tem uma irmã mais velha, a princesa Carolina, mas foi ele o sucessor do pai, Rainer III.
