
Há muito poucas imagens do atentado de Barcelona. Na realidade, no momento em que escrevo, só há uma. Foi registada pelo sistema de vídeo-vigilância do museu erótico da cidade. A câmara estava virada para uma janela por onde se vislumbra a passagem de uma carrinha a grande velocidade.
É o único vídeo recolhido durante o atropelamento da multidão. A imagem seguinte que o mundo conheceu mostra a carrinha já abandonada em cima do mosaico de Miró, um círculo desenhado no chão com recriações do pintor espanhol. O veículo foi abandonado pelo terrorista em cima dessa espécie de alvo simbólico, entretanto transformado em memorial. De resto, só há imagens de multidões em fuga, com aquele pavor próprio de quem só conhece o medo abstracto, sem causa definida, e as vítimas no chão, ou a tentarem levantar-se.
Ora, é esta inexistência de imagens que faz do ataque de Barcelona um atentado diferente. Desde a tragédia cénica das torres gémeas de Nova Iorque, planeada para ser transmitida em directo para todo o mundo, até chegarmos a este terror abstracto de Barcelona, sem imagens a não ser as do próprio medo, muita coisa mudou. Tudo funciona, agora, como se não fossem precisas imagens para vislumbrarmos o terror. O medo passou a ser tão abstracto que monopoliza o nosso quotidiano. Por absurdo, podemos considerar que nem é necessário haver um atentado para termos todos medo do terrorismo.
Essa é a primeira batalha que temos de vencer para derrotar o mal. O medo não pode ser abstracto, tem de ter imagens e ser objectivo. Só assim venceremos a guerra contra o terrorismo.