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Pedro Chagas Freitas
Pedro Chagas Freitas COMO F***DER UM CASAMENTO Manual Prático para Mul

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Modelo

Modelo: s.m. Aquilo que não serve para absolutamente nada; alguém que é um exemplo de perfeição é alguém que, para além de estar a ser o que não é, está a ser o que ninguém é; um modelo é, então, a representação perfeita de uma inexistência. Todos seguimos modelos – mas é bom que o façamos de bem longe. De todas as coisas imperfeitas que nos podem aparecer pelo caminho, a perfeição é a mais perniciosa de todas.
28 de agosto de 2017 às 22:42
casal apaixonado
casal apaixonado

- Ensinar a amar faz-se amando. Quando tiver um filho vou ensinar-lhe tudo sem nunca lhe ensinar nada. Vou fazer. Vou ser. Ele depois escolherá o que quer aprender. O grande professor não ensina nada: dá a escolher. Pensar é acima de tudo escolher, e viver também.

- O amor é a melhor lição, a lição suprema?

- O amor nada tem para ensinar. Alguém que amou durante cinquenta anos não sabe nada sobre o amor tal como alguém que nunca amou não sabe nada sobre o amor. O que sabemos é sobre a pessoa que amamos. Mas o amor não é a pessoa que amamos. Quando dizemos és o meu amor não sabemos o que estamos a dizer. Quando dizemos és o meu amor o que estamos, na verdade, a dizer é que aquela pessoa é a representação de algo que ocupa o espaço que destino em mim a amar. Mas não é ela o meu amor.

- Quem é?

- O meu amor sou eu. Não no sentido da auto-estima ou da auto-apreciação ou do amor próprio. Não. O meu amor sou eu porque é em mim, em Eu, que se localiza o meu amor. E é esse espaço, essa residência, que é depois ocupado por aquela pessoa a quem chamo amor. Mas essa pessoa não é o meu amor: representa o meu amor. Está lá, onde o amor deve estar. Mas eu também estou lá, onde o amor deve estar.

- Somos sempre bígamos: alugamos o amor, o espaço do amor, a um residente. E vamos vivendo, nós e eles, nesse mesmo recanto. Somos ambos o meu amor. O amor é a residência para onde trago quem amo. Somos criaturas de dois amores só. É essa a maior fidelidade possível.

- Somos criaturas da nossa criatura só. Criamo-nos em absoluta solidão. O que crescemos é sempre solitário, e mesmo assim vem dos outros. Precisamos dos outros para alimentar a densidade da nossa solidão: para a nossa solidão saber melhor. Alguém incapaz de estar sozinho é alguém profundamente sozinho.

- Amar é um acto de egoísmo.

- Amar é um acto de amor, e o amor, por muito que isto custe a engolir, é o mais profundo estádio de egoísmo humano. Amamos para nos sentirmos plenos. Amamos em nome de nós. E depois, porventura, podemos até executar actos de um altruísmo heroico inigualável. Alguém que dá a sua vida para que outra pessoa possa viver é alguém profundamente apaixonado por si mesmo, tão apaixonado por si mesmo que acredita que a melhor maneira de alimentar em absoluto o amor que sente é abdicar da parte física do amor que sente.

- Amar o outro é sempre um acto de dádiva.

- E no entanto não deixa de ser sempre um acto de puro oportunismo. Dou-me para me receber melhor: para me amar melhor. Aproveito-te para me querer melhor. Amo-te para me amar melhor: para o meu amor, em mim, ser mais longe, ser mais amor.

- Amas-me para te amares melhor?

- Sim, lamento.

- Foi a declaração mais fria e mais linda que ouvi em toda a minha vida.

- Amas-me pelo mesmo motivo?

- Sem tirar nem pôr. Amo-te para me amar melhor.

- Somos o casal mais frio e mais lindo que conheço. Temos tanto de amorosos como de diabólicos.

- Eis o amor.

- Mas já chega da parte amorosa. Vamos à diabólica?

- Estava a ver que não.

Modelo: s.m. O mesmo que fraude. Amamos o que imaginamos que o outro poderia ser e depois tentamo-lo encaixar no meio dessa criação que imaginámos. A desilusão é, assim, uma auto-criação: uma criatura que geramos e alimentamos sem necessitarmos da ajuda de ninguém. Amar não é mudarmos o nosso modelo para amarmos quem amamos; amar é amarmos quem amamos – e ser esse o nosso modelo de amor.

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